Numa discussão do Facebook a respeito do post Fetiches - Crossdressing foi levantado um questionamento sobre como "se livrar" desse sentimento tão forte dentro de nós. Eu, como alguém que a cada dia que passa tem se aceitado mais dessa maneira e tem estado mais feliz com isso, não consigo escrever dicas de como acabar com isso.
Eu já tentei parar. E isso soa quase como um vício. Lembro de várias peças de roupa que eu me livrei nas vezes que tentei parar. Principalmente dos caros sapatos de numeração especial. Primeiro teve uma bota de cano alto que foi uma das poucas que dava certinho no meu tornozelo e subia agarrada na panturrilha. Também teve um scarpin vermelho lindão que no desespero eu joguei no lixo. Roupas então? Eu não tinha dinheiro para comprar as peças que tenho hoje, então lembro de ter comprado mais lingeries e, eventualmente, um vestidinho ou outro. Sem contar as meias, minha paixão!
Como sei que não sou um bom exemplo, resolvi procurar mais sobre o tema e confesso que encontrei pouca coisa. Primeiro que nos sites de grupos de crossdressers a maioria afirmava com convicção que isso não tem cura. É algo dentro de nós que vai continuar ali. Claro que tiveram algumas ressalvas por que realmente existem exceções.
Ok, fui atrás das exceções então e eu só encontrei relatos de pessoas que conseguiram virar ex-crossdressers ou ex-travestis quando procuraram alguma ajuda na religião. Não sei se o que fazem é algum tipo de lavagem cerebral, mas encontrei um exemplo de um travesti que voltou a ser homem com 26 anos e deu seu depoimento aos 47 anos ao lado da esposa e do seu filho. A propósito, ele virou pastor da igreja evangélica.
Pastor Joide Miranda com a família e uma foto da época que era travesti |
Talita Oliveira e a direita ela estava num programa de TV ao lado do Pastor Marco Feliciano |
Complicado, né?
Outro caso que eu encontrei bastante foi de quem pratica crossdressing por puro fetiche e gostaria que acabassem as urges. Lendo os diversos relatos, eu acho que muitos podem ser compulsivos sexuais e o crossdressing acaba sendo só o meio de se aliviar e não a razão do problema. Explico, para se caracterizar como compulsivo sexual a pessoa deve apresentar grande dificuldade em se concentrar em outra coisa que não seja a realização de suas fantasias sexuais e acaba afetando sua produtividade no trabalho, nas relações sociais, afetivas e em sua autoestima. Sendo assim eu pergunto, alguns períodos de urge não lembram essa descrição?
Nesse caso, a recomendação é partir para um acompanhamento com profissionais qualificados como psiquiatra, psicólogos e terapeutas. O psiquiatra poderá receitar medicamentos que diminuam quimicamente o desejo sexual e que amenizem os sentimentos de menos valia e depressão associados ao quadro. Outra abordagem são os grupos de apoio que complementam o tratamento, pois neles a pessoa pode compartilhar o seu sofrimento com outras e receber o apoio adequado de quem passa pelo mesmo sentimento de inadequação social e solidão.
Bom, também existem os casos que não são tão fortes quanto o compulsivo, mas que também incomodam. Em uma época da minha vida eu já me senti muito incomodada com a questão sexual do meu crossdressing, porém eu senti que ele foi mudando com o tempo. Principalmente depois que eu fui atrás de amizades verdadeiras nesse meio, por que você não vê o próximo apenas como um objeto de adoração, você o vê como uma pessoa como você e isso corta grande parte da excitação.