Como você se vê ou se descreve?
Sou uma pessoa que tenta entender sua própria natureza, sou espírita e acredito que estamos aqui para evoluir e fazer resgates então não me compete questionar o que sou, mas tentar me entender... Sim...
Quando e como você percebeu que o seu lado feminino era forte?
Veja bem, essa e uma pergunta que muitos fazem. Na verdade não teve um momento de aflorar o lado feminino por que nunca me vi como masculino. Tento me entender desde que tenho 4 anos de idade. Isso me gerou muita dor e desconforto na minha infância e adolescência.
Só vim encontrar um ponto de equilíbrio, melhor, uma zona de conforto quando me apaixonei para minha esposa. Mesmo sendo feliz, me realizando afetivamente, nunca me completei como pessoa e sempre buscava escondida me vestir com roupas femininas, sonhava em ser mulher, chorava escondida quando sentia repulsa pelo meu próprio corpo, mas suportava por que achava que meu sofrimento seria maior se eu saísse daquela zona de conforto.
Quanto você se considera feminina?
Não. Pra mim a expressão de gênero feminino ou masculino é uma construção psicológica e social. Mesmo me vendo como mulher, vivi nos padrões do gênero masculino e desenvolvi todos trejeitos referentes ao mesmo. Estou construindo uma nova expressão de gênero, buscando deixar não somente aflorar minha identidade de gênero verdadeira como me espelhar em outras mulheres. Não é fácil. É uma construção diária.
E o lado masculino, ainda sobrou um pouco dele?
Ele ainda esta aqui presente comigo sim. Nem sei se um dia ele será apenas uma lembrança. Eu gostaria de não tê-lo mais, mas aprendi a me aceitar como sou.
Como foi tomar a decisão de partir para a transição?
Não chamo de decisão, chamaria de necessidade. Foi uma necessidade tão grande que o preço a pagar tornou-se pequeno, mesmo sendo bem grande. Você se assumir transgênero numa sociedade totalmente machista e binária e um desafio diário.
Como foi a reação das pessoas ao seu redor?
Ainda esta rolando essa parte (risos), algumas pessoas se chocam, perdem sono segundo dizem, não entendem nada... só posso afirmar que as reações sempre são bem impactantes.
Você já foi foi concursado como homem na área de segurança pública e agora está para assumir outra função publica na mesma área como Abby, como está a expectativa em ser uma mulher trans na área de segurança pública?
Medo e receio, não vou negar. Como Homem CIS sempre fui respeitado e até temido, nunca tive problemas com o outro lado da moeda digamos assim, como mulher trans é uma incógnita como a sociedade vai me tratar. Temos uma delegada que se assumiu, não conheço outra mulher trans nessa área. Conheço alguns casos de homens trans como guardas municipais e policiais militares, mulher não. Pra mim, faz parte do empoderamento como mulher trans, pois se uma mulher CIS pode, uma mulher trans também pode. Mas depois de assumir essa nova função e colocar a farda prometo outra entrevista de como uma mulher trans e vista dentro do sistema e vê a segurança publica.
Tem alguma mulher que você admira e/ou se espelha?
Minha esposa, quando não quer me matar (risos)
Qual é a sua peça de roupa favorita e por quê?
Taí, não tenho.
Já realizou ou pensa em realizar modificações no corpo? Se sim, quais?
Sim. a cirurgia de redesignação sexual. É um sonho de uma vida poder finalmente me enxergar completa como sou. Isso é algo muito particular, muitas meninas não tem essa necessidade e nem por isso são menos mulher.
Gostaria de deixar um recado para as outras meninas?
Sejamos nós, sem rótulos. Vamos esquecer um pouco os padrões de beleza e estereótipos impostos pela sociedade. Vamos nos amar como somos e nos aceitar porque somente assim conseguiremos ser aceitas por quem nos rodeia. A palavra é EMPODERAMENTO.
Antes e depois da Abby Moreira |