Eu mesma aprendi muito com esses artigos e minha cabeça está bem diferente de setembro 2015, quando postei o primeiro texto aqui! Naquela época eu não saía de casa montada (morria de medo), não depilava o braço para não "deixar tão na cara" e nem falava a respeito disso para ninguém. Hoje, por outro lado, não só depilo o braço como fiz laser no rosto e sempre ando de unhas feitas e pintadas. Ainda não comento para qualquer pessoa a respeito da Samantha, entretanto as pessoas que realmente importam sabem e sair de casa montada já virou rotina!
Antigamente eu pensava que tinha um caminho meio padrão para percorrer, seria aceitar o crossdressing, depois tomar hormônios e modificar o corpo (supostamente virar travesti) e por fim a modificação genital para "virar mulher" (transexual), seguindo uma ideia de evolução natural. No entanto, quem acompanha o blog já deve ter percebido que eu não sou fã de hormônios e nem de modificações cirúrgicas de estética, então parece que eu parei no meio do caminho e desisti, mas não é bem assim.
Já queimei muito neurônio pensando sobre a minha situação. Meus pensamentos variavam entre largar essa vida e "virar homem" e mudar completamente de vida e "virar mulher". Porém aos poucos fui percebendo que o meio termo também pode ser um caminho válido, principalmente por que a nossa sociedade contemporânea vem, aos poucos, abandonando antigos papéis de gênero.
Então por que não transformar o crossdressing num estilo de vida?
Se eu quero sair pra dançar numa balada eu visto uma saia, um salto e me maquio. Se vou fazer um levantamento de campo para meus projetos de engenharia eu coloco um jeans resistente/confortável e uma bota reforçada. Se vou no shopping ver roupa coloco um vestido fácil de tirar e um salto para desfilar. Se vou bater perna num Brás para ver roupa talvez um shorts e um tênis sejam a melhor opção.
Engraçado é que se eu tivesse nascido mulher isso tudo seria apenas besteira do dia a dia, mas como eu nasci com um pênis essas escolhas bobas se tornam um estilo de vida.
Tudo bem que as mulheres já passaram por situações parecidas (até piores) e batalharam muito para mudar a realidade. No início do século XIX, por exemplo, elas não eram permitidas a usar calças em público e a feminista Elizabeth Smith Miller causou espanto na sociedade americana de 1851 ao desafiar os padrões e sair na rua com seu traje Bloomer, como o da imagem a seguir.
Já no século XX temos uma situação peculiar acontecendo nessa icônica foto de 1957. Uma mulher está recebendo uma multa de um policial por trajar um biquíni na praia de Rimini, na Itália. Na época era proibido o uso de trajes reveladores e "indecentes", então o biquíni foi banido das praias do litoral francês, espanhol, italiano, português, além de proibido ou desencorajado em vários estados dos EUA.
Estamos em pleno século XXI e ainda tem gente discutindo se um gênero ou outro pode ou não usar uma determinada peça de roupa. Me poupe. Sei que eu já adotei o crossdressing (ou travestismo) como estilo de vida e só tenho atraído vibrações positivas! Espero ver mais e mais pessoas quebrando esse paradigma, assim um dia será tão normal ver um homem de saia na rua quanto é ver uma mulher de calça em público ou de biquíni na praia.
Só um detalhe, vale salientar que isso tudo não tem relação nenhuma com orientação sexual pois estilo diz respeito apenas a sua imagem pessoal. Eu até poderia falar da relação com a expressão de gênero, mas será que isso realmente importa?
Fonte Muriel Total |