Arte: ShiningSof |
Para atrapalhar tem uma passagem na bíblia que diz o seguinte: "Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus", Coríntios 6:10.
Talvez por isso ainda faz parte da nossa cultura pensar que homossexualismo e identidade de gênero são apenas escolhas pessoais que podem ser facilmente influenciadas por conta do meio em que se vive. Inclusive temos um presidenciável que já disse abertamente que "ter filho gay é falta de porrada", e completa: "o filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele" (vídeo).
Esse pensamento permeia na mente de diversos conservadores e, infelizmente, é fácil encontrar histórias de quem já sentiu a "porrada" do outro lado. Acontece com travestis que são expulsas de casa ainda adolescentes por não conseguirem se adequar a vida de hominho, acontece com homossexuais que tem que aprender a não "dar pinta" para não se passar por "bicha loca", acontece com homem hétero que tem que evitar certas atividades (ballet, por exemplo) para não virar motivo de chacota e acontece até com criança de 8 anos que é espancada até a morte pelo próprio pai por conta do seu comportamento afeminado.
Travesti da Lambada e Deusa das Águas Série Criança Viada, Bia Leite (2013) Por acaso essa obra foi acusada de apologia à pedofilia por conservadores (oi?!) |
Qual é a origem desse comportamento?
Garotos afeminados serão necessariamente homossexuais?
É possível mudar esse comportamento?
Já comentei no post Ser um homem feminino não tem nada demais que, até onde eu venho pesquisando, não existe nem uma razão plausível para condenar o comportamento feminino de um homem (ou menino). Na verdade, percebo que o comportamento feminino em si que é menosprezado, caso contrário mulheres que assumem o papel de líder com atitude corajosa e desafiadora, como a Dama de Ferro Margaret Thatcher, não seriam nada respeitadas ou teriam que responder por adotar comportamentos supostamente exclusivos masculinos.
Ademais, ultimamente é o comportamento masculino que vem sendo questionado, esse artigo falando sobre a Masculinidade Tóxica do site Papo de Homem é uma ótima referência e também recomendo vocês a assistirem o Documentário The Mask You Live In (2015). Aqui vale lembrar que muitos desses comportamentos esperados pela sociedade derivaram da figura do homem provedor e da mulher parteira que ficaram estagnadas no milênio passado, então está mais que na hora de rever os nossos conceitos.
Quanto à origem, não existe um consenso na ciência a respeito do tema. As teorias sugerem disfunção hormonal, interferência genética, variações hormonais na formação do feto além do fator da convivência. Talvez o ultimo seja o mais aceito pela sociedade, por isso faz sentido para muitos a ideia de que forçar um comportamento bruto e masculinizado "arrume" a criança.
Alias, muitos pais levam seus filhos ao psicólogo com a intenção de dar fim nesse comportamento, porém o procedimento atual esta mais focado em conhecer a origem do comportamento, aprender a lidar/aceitar e evitar repressões, mesmo por que a criança não está fazendo nada de errado. Em muitos casos é mais recomendado o acompanhamento dos pais no psicólogo do que da própria criança.
No quesito da sexualidade eu já cansei de escrever aqui que identidade de gênero e orientação sexual são independentes. Um rapaz pode amar rosa, falar fino, usar gírias de tribos homossexuais e preferir a companhia emocional/sexual de uma mulher cis (veja aqui um belo exemplo). Fora que o fato da pessoa eventualmente se tornar homossexual ou não será problema pessoal dela e do companheiro(a) dela, não é?
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E, por fim, será que é possível acabar com esse comportamento?
Até encontrei um estudo de 1974 que os cientistas propõe uma mudança no comportamento durante a criação, por exemplo: se o filho brincasse com bonecas ou falasse em ser mulher, era pedido que a mãe lesse um livro e ignorasse a criança; se o garoto usasse brinquedos como bonecos ou arminhas, a mãe era instruída a interagir com ele, sorrir, dar atenção, etc. No caso estudado os comportamentos afeminados diminuíram drasticamente e os masculinos passaram a ocorrer mais. Mas, eu pergunto, a que custo? A repressão pode até "consertar" a criança na frente dos outros, entretanto o indivíduo passará o resto da vida reprimindo a sua própria expressão a troco de quê? Falando por experiência própria eu passei vinte e tantos anos escondendo a minha verdadeira expressão e só me machuquei, então para mim a repressão da família na infância e a minha auto-repressão na vida adulta não adiantaram muita coisa...
Por outro lado, também encontrei alguns artigos criados por afeminados com o intuito de auxiliar quem deseja abandonar esse comportamento (como esse ou esse). Para mim soa estranho alguém querer mudar a si mesmo, mas penso que conviver com outras pessoas te olhando torto ou te julgando sem te conhecer deve ser sim um grande problema. Aí até faz sentido a pessoa buscar essa mudança, entretanto, eu repito, a que custo?
Estamos na era da diversidade e precisamos evoluir! Acredito que a expressão pessoal não pode se resumir ao seu órgão genital e hoje eu sinto que temos conquistado um espaço inimaginável, então a busca por respeito não pode parar!
Gostaria de finalizar esse artigo com uma enquete para saber um pouco mais sobre vocês, queridas leitoras! E não se esqueçam de deixar um comentário =)