quarta-feira, 11 de setembro de 2019

História de uma Crossdresser - Juliette Noir

Traduzido de Juliette Noir por Antonela Ross

Muitas de nós quando nos deparamos com essa vontade de adentrar no universo feminino ficamos abismadas pensando que essa loucura só acontece com a gente. No entanto, a medida que vamos conhecendo outras pessoas e outras histórias percebemos que não estamos sozinhas. Nem um pouco para falar a verdade. Tanto que eu já ouvi histórias semelhantes de inúmeras pessoas dos quatro cantos do mundo e ainda fico abismada com o quanto somos parecidas.

O texto a seguir é da Juliette Noir, uma crossdresser britânica, que foi traduzido por uma amiga minha (Antonela Ross) e que descreve muito bem algumas nuances do universo de um crossdresser (aliás, me enxerguei em vários trechos). Vale a pena a leitura assim como vale dar uma conferida no blog dela. Espero que vocês gostem!!


Minha História Noir
Minha História Noir, um voo sombrio para o mundo perigoso de uma mulher que não existe. Juliette Noir, uma jovem solitária em uma cruzada para defender a causa dos inocentes, dos indefesos, dos impotentes, em um mundo de criminosos que operam acima da lei.

Meu nome é Juliette Noir, ou melhor, não é, mas é assim que vocês podem me chamar. Eu sou um cara bastante típico a maior parte do tempo, eu tenho uma família, um bom trabalho, eu gosto de filmes, eu corro e pedalo para manter a forma e tenho alguns hobbies interessantes.

Como muitos homens que investiram muito em suas atividades, optei por dedicar todo esse site a um desses hobbies. No entanto, é importante para mim que você perceba que o que você está vendo sou eu, apenas uma aparência externa minha, que representa tão somente cerca de 5% da minha atividade diária.

Então, vamos falar sobre começos, desafios, triunfos e fracassos.

Infância
Eu realmente não poderia dizer quando soube que sou um/a crossdresser, eu tenho estado nisso de uma forma ou de outra por mais de 30 anos e de muitas maneiras eu ainda estou encontrando meus pés e minha voz.

O que eu sei é que eu nunca me entrosei com muitos de meus colegas e tenho tendência a me manter fora da maioria dos grupos.

As primeiras memórias giram em torno de um fascínio por vestidos, saias, roupas íntimas femininas etc. No entanto, eu realmente não tinha consciência do que estava fazendo ou sentindo. Eu senti o que agora sei que é um sentimento típico de vergonha e confusão sobre essas inclinações e como muitas pessoas na minha situação, eu escondi profundamente isso da melhor maneira que pude.

Às vezes, no entanto, adotamos medidas que afetam mais permanentemente nossas vidas. O crescimento de pelos no corpo de adolescente não foi um alívio para mim, mas um aborrecimento. Aos 16 anos, depilei minhas pernas pela primeira vez e depois passei muitas semanas tentando evitar a ginástica e qualquer coisa que pudesse revelá-lo.

Entrando na idade adulta
Quando jovem, eu convivi com essas vontades e desejos da melhor maneira que pude, mas pouco fiz para exercê-los abertamente. Eu tive muitos problemas com formação educacional, busca de emprego e relacionamentos incipientes para gastar tempo em um estilo de vida alternativo.

Estas são as típicas desventuras diárias de um homem de fins da adolescência e início da juventude, não há grandes desastres ou tragédias aqui, apenas diariamente, angústia juvenil e preocupações sobre o futuro.

Ao longo desses anos, enterrei Juliette (ela não tinha nome ainda) e mantive meus desejos em sigilo. Eu agora acredito que parte dessa supressão me levou ao meu maior vício e muleta.

Lidar com o álcool
Passei a maior parte do meu final de adolescência e início da juventude bêbado. Para colocar isso em perspectiva, no meu pico, eu estava bebendo 2-3 garrafas de vinho por dia e fumando 20-30 cigarros.

Não vou adentrar histórias sobre incidentes, mas direi que sei que, até certo ponto, estava deprimido e bebendo para lidar com essa depressão. Eu também pesava cerca de 100 quilos (ou 220 libras) na época e estava desmedidamente comendo até um grau que era pelo menos insalubre, se não pior.

Não sei explicar por que parei de beber quando o fiz, mas sabia que precisava fazer alguma coisa em prol da minha saúde. Eu não fui às reuniões do AA, não consegui assimilar a mensagem deles. O que eu fiz foi passar algumas noites realmente examinando minha vida e olhando minhas escolhas. Eu escolhi não beber por uma noite e simplesmente tomei um dia de cada vez.

Isso foi há mais de 12 anos.

Encontrando Juliette
Depois que parei de beber, minha vida mudou drasticamente. Eu parei de fumar depois de mais 2 meses e ao mesmo tempo perdi quase todo o excesso de peso.

Recuperei minha confiança em mim mesmo, mas também perdi a maioria dos meus amigos, evitando pubs, álcool, cigarros e situações tentadoras. Para ser franco, eu precisava me concentrar em mim e calar grande parte do mundo exterior. Parei de me preocupar com o futuro e olhei mais para o agora (muito Yoda).

Foi quando Juliette recebeu seu nome ao entrar nos meus 30 anos. Eu não estava procurando por um relacionamento e tinha um pouco mais de dinheiro agora que não gastava cada centavo em minhas muletas emocionais.

Eu comprei uma peruca, seios, roupas, maquiagem. Eu me vesti em casa e visitei as salas de bate-papo. Essencialmente as mesmas coisas que todo mundo faz. Tentei descobrir o que eu era e como queria viver minha vida e senti que estava muito perto de um ponto em que poderia ter abraçado abertamente Juliette como parte de minha vida diária. Nem sempre de forma transitória, mas como um/a crossdresser aberto. Então tudo mudou novamente.


Casamento
Quando conheci minha esposa, desisti de procurar uma parceira ou um relacionamento. Agora aqui estava esse novo e precioso aspecto da minha vida que precisava ser protegido e salvaguardado do risco.

Eu entrei em pânico. Eu joguei fora todas as coisas de Juliette e tentei tirar tudo o que a lembrasse. Era como se eu tivesse uma escolha 'ou/ou' à minha frente e não havia espaço para ambas as coisas na minha ao mesmo tempo. Então eu fiz uma escolha para proteger o que eu achava que era a minha melhor chance de um futuro feliz.

Tenho certeza que todos nós sabemos o resto da história. O crossdressing é uma parte da minha vida e eu posso suprimi-lo e ser infeliz ou posso deixá-lo respirar e gozar de forma saudável. Minha esposa descobriu e passamos muitos dias, semanas, meses e anos trabalhando em nosso relacionamento. Nós ainda o fazemos. Precisávamos lidar com possíveis mentiras, traição, suspeitas, dúvidas, choque e medo que isso trouxe para nossas vidas e é por isso que eu criei este site e meu canal no YouTube.

O futuro
Meu objetivo com este site é avançar um pouco na discussão sobre homens que não querem transicionar. Então, um dia alguém como eu se sentirá menos inclinado a esconder sua natureza e negar quem ele é com medo de ser julgado ou ter que fazer uma escolha sobre seu futuro.

Há um longo caminho a percorrer, mas é hora de adicioná-lo à conversa e essa história ser contada.


O vídeo acima é do canal da Juliette Noir no YouTube, pena que é tudo em inglês pois é bem interessante ♥
5 Comentário(s)
Comentário(s)

5 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esse texto, uma coisa que me reconheci foi a dificuldade de fazer amizades e estar no meio de amigos, nunca me senti realmente aceito e a vontade no meio masculino.

Unknown disse...

Gostei do texto me identifiquei com jullite não vejo a hora de criar a minha julliete

Anônimo disse...

Eu também amo me vestir de menina, adoro usar saias e vestidos entre 4 paredes sempre, minha esposa sabe e sempre me apoia, isso é bom,pena que o Brasil é um país onde há muito preconceito, senão eu estaria 24 horas usando saia, é tão gostoso sentir o prazer de usar saias e vestidos bem soltinhos,espero que um dia tudo muda,e esteja tudo mais liberal, porque eu amo isso, abraços

Uso Calcinhas disse...

Minha esposa nem imagina que amo usar calcinhas e fios.
Sempre estou comprando, sem ela saber.
Nunca teria coragem de contar a ela, pois jamais aceitaria.
Em casa me comporto como homem, mas sempre que posso viu trabalhar e passo o dia de calcinha ou um fio bem enterradinho.
Queria conhecer pessoas para falarmos abertamente sobre o assunto.

Uma amizade e quem sabe um casal, para trocarmos experienciar.

usocalcinhas.sp@gmail.com

Anônimo disse...

Oi