Recentemente o ator Milhem Cortaz interpretou o personagem Joubert Machado na novela O Sétimo Guardião da Globo, um respeitado delegado da cidade fictícia de Serro Azul. Com voz grossa e postura viril, ninguém desconfia que o policial usa calcinha. Apesar disso, o personagem é machista, defensor dos "bons costumes", além de ser muito ciumento com a esposa Rita de Cássia, vivida por Flávia Alessandra.
O caso trouxe o assunto para o público geral e, sob o olhar da sociedade, parece se tratar de uma prática estranha e inusitada. No entanto, no submundo dos crossdressers isso é algo tão banal que algumas pessoas até tentam dissociar o termo crossdressing dos homens que apenas adotam a calcinha pois, apesar de ser uma roupa do sexo oposto, pouco se compara a uma produção completa com roupas, acessórios e maquiagem.
Pode não parecer, mas essa prática atrai um grande número de homens pelo mundo inteiro. Embora seja mantida em segredo nas culturas mais conservadoras e machistas, nós só não temos noção do seu alcance porque as roupas íntimas são bem protegidas pelas camadas exteriores. Caso contrário, tenho certeza que já seria um comportamento naturalizado.
Para alguns homens esta prática funciona como uma terapia contra a ansiedade e a depressão, uma vez que usar a peça proporciona prazer. Em outros casos o uso pode servir como um afrodisíaco para um momento de intimidade com a parceira ou para um momento de erotismo pessoal. Também tem a questão da variedade, muitos homens acham injusto as peças femininas serem mais delicadas, sexy e confortáveis que as deles.
Se você pesquisar um pouco na internet vai notar como é fácil encontrar depoimentos de homens heterossexuais que apreciam usar uma bela lingerie, apesar de que na maioria dos casos eles preferem usar escondidos de suas parceiras pois têm medo da reação delas.
Vale dizer que o fato de um homem usar lingerie não é como um carimbo na testa. Em geral, quando não estão completamente travestidos, esses homens costumam ser irreparavelmente masculinos. Não há uma regra que ligue essa prática a uma determinada identidade sexual. Portanto, homens que apreciam usar lingerie não devem ser automaticamente taxados de homossexuais.
Além disso, enquanto homens que usam calcinha são estigmatizados e sofrem preconceito, mulheres têm opções de cuecas femininas à disposição, que são peças muito parecidas com as masculinas, e não precisam esconder seu uso de ninguém.
Bom, minha visão sobre as calcinhas tem mudado nos últimos tempos. Eu venho usando mais peças femininas no meu cotidiano, como as calças leggings que são extremamente confortáveis. Em casa quando está frio é bem provável que eu as esteja usando. Quando eu comecei a aderir à elas eu costumava usar as calcinha do tipo Gaff, mas o uso prolongado é meio desconfortável por conta da tensão do tecido que mantém as coisas no lugar. Até tentei usar cueca com essas leggings, mas parece que sobra tecido da cueca e também acaba incomodando. No fim resolvi procurar uma calcinha que fosse confortável para usar no cotidiano e foi aí que eu percebi o quanto as calcinhas são interessantes. A começar pelas opções:
A imagem acima ilustra bem o que eu quero dizer. Nas seções masculinas de roupa íntima costuma ter uma prateleira com uns 3 modelitos diferentes de cuecas. Enquanto isso, algumas lojas contam com um departamento inteiro exclusivamente para as lingeries femininas. Tem opção confortável, sexy, esportiva, cintura alta, cintura baixa, fio dental, biquíni, cuequinha, sem costura, calçola, entre outros.
Também tem a diversidade de tecidos. As cuecas normalmente são de algodão, as boxers são mais elásticas e nas samba canção aparecem opções com tecidos diferenciados. No caso das femininas a lista é grande, tem lingerie de algodão, elastano, cotton, renda, microfibra, seda, linho, poliéster, viscose, lycra, tule, laise, etc. Fora isso ainda tem a variedade de cores. Naquela prateleira masculina costuma ter branco, preto, azul e cinza, enquanto no departamento feminino parecer ter o espectro inteiro do arco-iris.
De certa forma isso complicou a minha experiência pois eu não fazia ideia de qual modelo seria o ideal para mim. Então resolvi comprar uns 10 modelos diferentes para experimentar no dia a dia e ver qual eu me adaptaria melhor. Dessa amostra, 3 modelos atenderam às minha expectativas tão bem que eu estou considerando seriamente dar preferencia às calcinhas ao invés das cuecas nas minhas próximas compras.
Samantha Oliver |
Por fim, e não menos importante, lingeries também ajudam a fortalecer a autoestima e revelam não só a importância do autorrespeito, como promovem também o autocuidado. Tais peças íntimas fornecem a oportunidade de reverenciar o próprio corpo, independentemente de estar ou não na melhor forma física. Independente também de olhos de terceiros pois quem usa é quem mais usufrui da sensação.
O fato de usar uma lingerie que te faça se sentir bem, simplesmente para saber que você está deslumbrante desde as peças íntimas, pode reforçar de uma forma surpreendente a sua postura, fazendo com que tudo isso seja externalizado em uma atitude mais resoluta, firme, autoconfiante, assertiva e corajosa. E, convenhamos, não há nada mais atraente do que alguém que transpareça tudo isso, não é?
Sendo assim, acho que passou da hora de limitar a roupa íntima masculina apenas ao conforto. Claro que isso é importante, mas é preciso ir além. Ultimamente vejo que algumas marcas até estão tentado quebrar esse paradigma e eu espero muito que elas tenham sucesso. Quem sabe quando pudermos ver lingerie masculina nas lojas como algo cotidiano eu nem precise mais me considerar um crossdresser.
Duloren Aparentemente é a foto mais comentada da marca no Instagram |