Pelo que parece, a pornografia transgênero está bombando na internet e o Brasil é um dos maiores consumidores dessa fantasia. Se bem que isso sempre existiu, principalmente por que as pessoas que estão fora da cis-heteronormatividade costumam ser marginalizadas e obrigadas a dar um jeito para sobreviver, o que mostra bem esse artigo chamado Retrato íntimo e glamouroso de mulheres trans na Paris dos anos 60 que relata como era essa questão a 60 anos no passado.
O problema é que muita gente acaba tendo o primeiro contato com pessoas transgênero nesse submundo pornográfico e logo supõem que todas as pessoas do espectro trans são assim. Cansei de receber mensagens de sujeitos anônimos na internet querendo saber da minha vida sexual ou até querendo me contratar para satisfazer os desejos deles. Confesso que esse foi um dos motivos que me fez tomar distância do mundo online e me afastou da maioria das redes sociais. Isso é cansativo e eu já perdi a paciência para tentar filtrar.
A autora do texto a seguir passou pela mesma situação que eu e disserta para tentar quebrar esse paradigma que existe em torno das pessoas transgênero e não-binárias.
Traduzido de Suzanna Alastair
Recentemente, um homem me enviou esta mensagem em um aplicativo de namoro que eu uso:
"Ei, você é gostosa!!! Você se parece com essa garota do [filme pornô trans] que eu assisti. Eu quero fazer isso….. e isso…. e mais isto… com você"
Ele assistiu um pouco de pornografia trans e ficou todo excitado e incomodado. Ele ansiava pela mesma experiência e logo assumiu que eu também queria. Por quê? Bem, porque eu sou uma mulher trans, o que obviamente deve significar que eu quero transar com ele exatamente da mesma maneira que a aquela estrela pornô, certo?
Não.
As pessoas trans representam uma pequena porcentagem da população e a maioria das outras pessoas não teve a oportunidade de conhecer uma pessoa trans para perceber que somos como qualquer pessoa. Somos seres humanos normais com anseios de felicidade e também desejamos evitar qualquer tipo de sofrimento. Nem todos gostamos das mesmas coisas só porque somos trans. Somos um grupo diversificado de pessoas, assim como a população em geral.
Nos últimos anos, as pessoas trans receberam uma certa exposição na mídia devido a celebridades como Elliot Page e Caitlyn Jenner. Como resultado, as pessoas ficaram curiosas a respeito de pessoas trans, quem somos e, claro, como é fazer sexo com uma pessoa trans.
De acordo com esse artigo do site Lifehacker a respeito dos resultados de busca do site Pornhub, o ano de 2021 foi um grande ano para pornografia transgênero.
"As pesquisas por 'trans' e 'transgênero' aumentaram no Pornhub em 141% em 2021, e as visualizações da categoria transgênero cresceram 23%, tornando-se a décima categoria mais assistida por visitantes masculinos."
Infelizmente, a indústria pornô pinta um retrato limitado de como deve ser a vida sexual das pessoas trans. Estando em aplicativos de namoro nos últimos dois anos, me deparei com duas suposições recorrentes sobre mulheres trans em relação ao sexo que buscamos. São elas:
1. Todas as mulheres trans gostam de dar o cu.
ou
2. Todas as mulheres trans não operadas gostam de comer o cu de homens.
Isso não é verdadeiro nem no sentido de que todas as mulheres trans optam por um ou pelo outro. Claro, com certeza tem algumas mulheres trans que gostam dessas coisas e de todo o poder que elas ganham com isso. Mas definitivamente não são todas. Sexo com mulheres trans não é necessariamente o que se vê em vídeos pornográficos (na real isso vale pra qualquer tipo de sexo).
Então, como é fazer sexo com mulheres trans? (Mentes curiosas querem saber!!!)
Bom, como somos humanos e não alienígenas, o sexo conosco será muito semelhante ao sexo com outros humanos. Algumas de nós gostam bastante de sexo, outras nem tanto ou nem fazem questão. Algumas podem gostar de dar e receber sexo oral, enquanto outras não. Algumas gostam de fazer ou receber sexo anal, outras não. Mulheres trans que realizaram a operação de redesignação sexual podem preferir fazer sexo vaginal em vez de sexo anal. Algumas são submissas, enquanto outras, como eu, são mais dominantes. Somos todas diferentes e gostamos de coisas diferentes, assim como nossas irmãs cis.
Onde encontro mulheres trans para fazer sexo?
Frequentemente eu vejo esse tipo de pergunta no Quora. A maioria dos homens que perguntam isso soam como caçadores repugnantes que valorizam mulheres trans apenas por elas terem um pênis.
Muitas pessoas cis não conseguem entender o porquê de alguns homens que se dizem héteros se sentirem atraídos por mulheres trans que ainda têm pênis. Alguns até me disseram que eu deveria me sentir feliz visto que um homem se interessou por mim. Outros, como a minha esposa que é uma pessoa cisgênero, não conseguem entender por que eu constantemente afasto homens que expressam interesse em fazer sexo comigo. Você também pode perguntar: qual é o problema? Eu gosto de garotas com paus, e daí? Não é o melhor dos dois mundos?
Embora nem todas as mulheres trans tenham problemas com seus próprios pênis, algumas têm. Imagine por um momento que você tem algum tipo de desfiguração ou doença de pele. Tem grandes chances de você odiar isso e ter vontade de querer mudar ou remover esse aspecto de você.
Agora imagine que tem alguém que fica sexualmente excitado por esse detalhe que você odeia. É o fetiche deles e eles procuram você para fazer sexo com você apenas por causa disso e não pela pessoa que você é.
Como você se sentiria? Seria bom ser usado e descartado como um lenço sujo depois de satisfazer a curiosidade sexual dele? E se ele entrasse num relacionamento contigo por causa disso, o que aconteceria se você decidisse "corrigir" essa sua desfiguração?
Alguns podem pensar que estou sendo excessivamente dramática, mas muitas mulheres trans se encontram em relacionamentos com idiotas tóxicos que as assediam e ameaçam terminar com elas se elas passarem por cirurgias afirmativas de gênero.
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| "Ele só gosta de mim porque sou asiática", por Hannah Kang |
Algumas mulheres asiáticas relataram sobre sentir algo semelhante a respeito de homens brancos sendo atraídos por elas. Jessie Tu escreveu um artigo que explorou a profunda frustração com o fetiche por mulheres asiáticas.
"A cada novo parceiro romântico, preciso fazer a mesma avaliação ansiosa: você está interessado em mim por causa de quem eu sou ou por causa do tom da minha pele e do meu olho puxado? Eu nunca tenho certeza disso."
Seiryun Song ainda acrescenta:
"A situação dos encontros muitas vezes nos deixa frustradas e paranoicas e, infelizmente, a sociedade continua distorcendo a percepção das mulheres asiáticas e insiste que a situação se trata simplesmente de 'preferências, e não fetiches'."
Com as mulheres trans a distorção acontece de maneira semelhante.
Percebo nas conversas que tenho com os homens para ver qual é o verdadeiro motivo deles falarem comigo. Eles me veem como um fetiche ou como uma mulher? Na maioria das vezes, sou vista como um fetiche a ser experimentado, como se fosse um carro esportivo exótico. Ou uma experiência.
Nos últimos dois anos, posso contar nos dedos quantos caras me viram como um possível material de relacionamento ao invés de uma aventura sexual.
Nunca é bom ser valorizado apenas por uma parte superficial do seu corpo.
Dicas para obter sucesso com mulheres trans
Se você deseja conhecer romanticamente uma mulher trans, apresento aqui algumas dicas.
1. Não presuma quais genitais uma mulher trans tem ou deveria ter. Muitas delas não são operadas, o que pode significar que elas têm pênis e testículos. Mas também pode significar que elas só têm um pênis. Já as mulheres trans operadas normalmente têm vaginas funcionais.
2. Nunca comece uma conversa com uma mulher trans com a pergunta: "pinto ou buceta?". Perdi a conta de quantos homens começaram a conversa assim comigo. É rude e não deveria ser a sua primeira preocupação, especialmente se ela não estiver interessada em ter intimidade com você.
3. Nunca assuma que você sabe que tipo de sexo ela prefere, especialmente com base no que você assistiu na pornografia. Nunca assuma que ela fará de bom grado o que você quiser fazer sexualmente. Somos todos diferentes e todos temos nossos limites sobre o que faremos e o que não faremos.
4. Fale com ela como uma mulher e trate-a com respeito.
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| Suzanna Alastair, autora do texto |
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