Traduzido de Bluestocking Blue
Nas últimas semanas eu finalmente assumi o meu lado feminino para os meus filhos.
Esta foi uma coisa surpreendentemente difícil de se fazer. Não porque eu não quisesse, mas porque haviam obstáculos significativos no caminho. Aqueles que me conhecem já sabem o quanto a minha ex-esposa detestava o meu crossdressing, e o quão manipuladora e obstrutiva ela podia ser.
Sem passar por todos os detalhes cansativos e tediosos (e são muitos!), eu consegui contornar o pior dos obstáculos e finalmente fazer a minha Grande Revelação.
Por eu ter sido muito cuidadoso ao fazer esse movimento, isso permitiu que várias coisas acontecessem. Isso me permitiu contemplar seriamente, e pela primeira vez, como minha vida seria se eu não tivesse que esconder quem eu sou. Por muitos anos, tive que lidar com uma esposa que me dizia que eu era nojento, vergonhoso e inaceitável por gostar de usar roupas femininas. Isso foi muito corrosivo para a minha auto-estima.
Durante esse tempo, esconder tudo e fingir ser quem eu não sou parecia ser normal. Parecia seguro. Parecia um barco que eu não queria que balançasse, porque eu ainda estava com muito medo de mais consequências negativas, e eu não achava que tinha forças para enfrentá-las.
Mas a ideia de não precisar mais me esconder estava começando a se firmar. Olhando para frente, pude ver a luz pela primeira vez – uma luz que eu não ousava sonhar que brilharia em mim. Quando os protestos da minha ex-mulher começaram a aumentar, a ideia de retroceder ficou intolerável.
A Grande Revelação
Sempre achei divertidamente irônico que na língua inglesa temos uma metáfora popular usada quando precisamos enfrentar algo difícil que diz "vista a sua calcinha de menina crescida e lide com isso". Este definitivamente foi um desses momentos para mim!
A estrela do show foi o meu filho mais velho, que está no final da adolescência. Ele aceitou imediatamente e completamente, e foi tão maduro. Ele era o que mais me preocupava, já que ele cresceu acreditando que seu pai era um cara comum (embora um nerd, erudito), e eu não tinha certeza de como ele receberia a notícia.
A que eu esperava que não fosse dar problema era a filha mais velha, que está no meio da adolescência. Ela é muito progressista, muito pró-pessoas LGBT, e muitas vezes fez declarações em apoio às causas minoritárias. Embora ela também não estivesse esperando este tipo de anúncio, eu pensei que ela seria a única “preparada” para aceitar. Em vez disso, ela ficou muito chateada e foi imediatamente para a casa da mãe dela.
Os dois mais novos foram mais tranquilos, especialmente o que já dá sinais de ser um pouco arco-íris.
O que eu disse a todos eles foi: "isso não é mais segredo". Eu não queria puxá-los para dentro do armário comigo, mas sim abrir a minha porta e deixar ela escancarada. O que isso significa (para mim) é: chega de me esconder. Embora eu não vá esfregar a Vivienne na cara das pessoas, também não vou me esconder e torcer para não encontrar ninguém que possa me reconhecer.
Resultado
Ainda estou processando tudo isso. A reação da minha filha me atingiu em especial. Em vez de sentir alívio, satisfação ou triunfo, senti-me pessimista e desanimado por algumas semanas. Isso me fez pensar se eu tinha feito a coisa certa: será que eu forcei demais? Eu deveria ter esperado mais?
Estou gradualmente me sentindo um pouco melhor, e as primeiras indicações são de que ela está se recuperando aos poucos. Mas ainda sinto que é muito cedo para comemorar.
A pessoa que tornou tudo isso possível foi minha incrível parceira, Missy, que me apoiou infalivelmente, gentilmente me persuadindo a me afastar da minha tendência de catastrofizar tudo e usou a sabedoria e a gentileza dela para me ajudar a reformular meus sentimentos de forma mais positiva. Ainda me pergunto como acabei sendo tão afortunado.
Fora do armário, e orgulhoso?
A palavra Orgulho é frequentemente usada por pessoas do arco-íris. Temos desfiles do orgulho em muitas cidades todos os anos. Eles deixaram de ser marchas de protesto contra a opressão para serem (principalmente) desfiles coloridos adequados para toda a família, o que é uma coisa maravilhosa. A luta não acabou, é claro, e em alguns países as coisas até parecem estar voltando para trás.
Mas a noção de Orgulho é poderosa. É uma retaliação contra o sentimento de vergonha e exclusão que muitos de nós sentimos. (Eu sei que o que eu experimentei é uma gota no balde em comparação com o que muitos outros experimentaram!). O conceito de Orgulho é que as pessoas LGBT possam dizer: aqui estou; eu sou uma pessoa digna; e tenho orgulho de ser quem sou.
A partir de hoje, não estou me sentindo orgulhoso de mim mesmo – pelo menos não ainda. Talvez este momento chegue. E, à medida que uma pessoa após a outra aprenda sobre a existência da Vivienne e responda com carinho, aceitação e curiosidade, em vez de repulsa ou desprezo, minha auto-imagem estará mudando gradualmente. E meu guarda-roupa está se aprimorando, e a minha maquiagem está melhor e estou me sentindo mais confortável e natural quando saio. A tendência geral é boa.
Quando comecei a conversar com meus amigos e conhecidos trans e grupos do Facebook sobre sair do armário, vários deles claramente reagiram em termos muito diferentes de mim. Eles viram isso como uma coisa boa para comemorar. Faça uma festa, eles disseram (uma festa de revelação de gênero?!). Faça disso um dia especial! Aproveite!
Isso nunca tinha me ocorrido. Até recentemente, sair do armário era algo que eu temia e não estava ansioso por isso. (Missy falou em algo como “arrancar o gesso”). Mas ter uma festa para comemorar? É definitivamente algo em que estou pensando, e pode ser um ponto de virada.
Então, como será o futuro? Aquela luz distante está começando a parecer muito mais próxima. E o rosto que vou mostrar ao mundo vai se parecer com este com muito mais frequência.
Vivienne, autora do texto |