Adaptado de Carol Lennox
Você pode seguir estas etapas para a transição de transgêneros
Jessica L. entrou no meu consultório há mais de dez anos atrás. Ela tinha um metro e oitenta e dois de altura e ombros largos. Ela vestia o que mais tarde nós descreveria como “trans stripper”. Shorts curto com meia arrastão, botas de salto alto e um top cropped. Ela tinha dezesseis anos e ainda não havia iniciado a terapia hormonal com bloqueador de testosterona ou estrogênio.
Quando comecei a trabalhar com ela na terapia em sua jornada de transição, ela e eu aprendemos o processo juntas. Eu estava ciente da situação e era uma aliada das questões transgêneros desde que a Life Magazine publicou um artigo sobre os direitos das pessoas transgênero na Suécia no início dos anos 1970. Eu também trabalhei em um consultório durante meu estágio com um médico que estava em um momento de transição de gênero e que trabalhava com clientes transgêneros.
Ter Jessica L. como paciente foi e continua sendo uma educação totalmente diferente para mim. Ela me deu permissão por escrito para escrever sobre ela como parte de seu esforço para defender e ajudar as outras pessoas transgênero.
Desde que comecei o processo com ela, acompanhei outras pessoas em suas transições e/ou trabalhei com elas em outros problemas após a transição. Alguns foram de feminino para masculino e outros foram de masculino para feminino. Eles tinham idades entre doze e trinta e tantos anos, do ensino médio ao pós serviço militar.
Um dos meus guias nessas jornadas, além dos próprios clientes, é minha amiga e colega roteirista, Rachel Stevens. Ela é aposentada da marinha e atualmente uma artista incrível. Leia seu livro Blowing up Rachel: A Non-Binary Trans Woman's Dialogue With Each Other (Explodindo a Rachel: um diálogo de uma mulher trans não-binária com as outras, sem versão em português) para uma visão mais profunda da jornada de alguém que escolheu fazer a transição em uma fase tardia da vida.
Ultimamente como terapeuta, estou vendo mais pessoas jovens que estão pensando em fazer a transição de gênero, ou decidiram e querem ajuda com o roteiro deles. Como eles encontram a maioria das suas informações na internet, e não necessariamente proveniente de uma boa maneira, aqui está a informação que eu gostaria que eles tivessem acesso antes de vir para a terapia.
1. A terapia pode ajudar em todas as fases da transição. No entanto, é mais eficaz para ajudar os adolescentes a decidir "se" e "quando". Alguns têm pais que os apoiam, mas muitos não. Os pais os levam a um terapeuta para tentar “endireitar eles”, literalmente. Com esses clientes eu incluo os pais na terapia após um certo período de tempo, faço isso para ajudá-los a aceitar o gênero identificado de seus filhos. Em seguida, ofereço aconselhamento ou encaminhamento aos pais para ajudar em sua própria transição e na tristeza e alegria que isso acarreta. Aqueles que contam com pais que apoiam decidirão quando, onde e como começar a viver como o outro sexo e quando iniciar a terapia hormonal. Ajudo ambos os grupos a se prepararem para as situações sociais, emocionais e práticas que podem encontrar durante a transição.
2. Alguns médicos em algumas regiões ainda exigem uma carta de recomendação de um terapeuta antes de iniciar a terapia hormonal ou antes de realizar alguma cirurgia afirmativa. O período de tempo de terapia indicado geralmente é de três meses. Alguns médicos que não exigem essa carta ainda recomendam a terapia para o apoio mental e emocional durante a transição. Embora eu celebre a maior liberdade de adolescentes e pais para acessar os cuidados médicos, acredito e testemunhei que a terapia é extremamente valiosa para as pessoas em transição.
3. Viver como o gênero preferido por um certo período de tempo, geralmente um ano, também é algo que os médicos costumavam desejar antes de prescrever hormônios. Isso agora se tornou mais uma sugestão do que um dever. Presumivelmente, isso era para a pessoa em transição experimentar ser seu gênero preferido antes de iniciar os hormônios. Os hormônios criam mudanças que depois de um certo tempo são irreversíveis. No entanto, viver como outro gênero antes dos hormônios e/ou cirurgias pode ser bastante difícil após a puberdade e até perigoso em alguns lugares. É melhor deixar isso para a escolha individual. Você pode optar por adotar o gênero preferido em algumas determinadas atividades se não se sentir seguro o suficiente para sair do armário completamente antes da terapia hormonal e/ou da cirurgia.
4. Advogue-se com os médicos e faça com que seus pais te defendam também. Como terapeuta, fico feliz em defender meus clientes com seus médicos. Colaborei com psiquiatras e endocrinologistas nas transições de meus clientes. O pensamento atual apoiado pela WPATH, World Professional Association for Transgender Health (Associação Profissional Mundial para a Saúde Transgênero), é que aqueles que procuram terapia hormonal devem poder obtê-la sem depender dos guardiões médicos e psicológicos.
5. Em algum momento, você possivelmente vai querer mudar seu nome de nascimento para um que você escolheu. A mudança de nome e gênero nos documentos é possível hoje em dia sem a necessidade de ação judicial. Qualquer pessoa com mais de 18 anos pode requerer ao cartório de registro civil de origem a adequação de sua certidão de nascimento ou casamento à identidade autopercebida.
6. A terapia hormonal geralmente é um desejo para aqueles que estão em transição de gênero. Para o caso de homem para mulher, os bloqueadores de testosterona inibem o crescimento dos pêlos corporais. Se tomados antes da puberdade, também retardam o crescimento físico e o desenvolvimento completo do pênis e dos testículos. A adição de estrogênio suaviza as características faciais e dão um volume aos seios. Para o caso de mulher para homem, alguns tipos anticoncepcionais param completamente a menstruação. Injeções diárias de testosterona aumentam a massa muscular e promovem o crescimento dos pelos faciais e corporais. Também pode ajudar a engrossar a voz.
As etapas 7 e 8 tratam sobre as decisões e detalhes sobre cirurgias.
7. As pessoas transgênero FTM (feminino para masculino) têm várias opções. Entre meus clientes, essas escolhas têm variado e são pessoais para cada pessoa em transição. Alguns optam por retirar os seios (mastectomia) e “construir” um pênis. Alguns optam por manter os seios, especialmente se forem pequenos. Eles geralmente optam por esconder seus seios com faixas. Outros removem os seios e contam com tratamento hormonal que aumenta o clitóris. Como as terminações nervosas do clitóris e do pênis são praticamente as mesmas, essa pode ser uma escolha mais simples.
8. As pessoas trans MTF (masculino para feminino) também têm uma variedade de opções. Eles provavelmente terão seios femininos naturais como resultado do estrogênio. Se preferirem maiores, podem colocar implantes mamários. Alguns optam por remover o pênis e criar uma vagina usando a pele do pênis. Feita a cirurgia, há um tempo durante o qual a nova vagina é alongada, usando inserções progressivamente maiores. Minha amiga Rachel Stevens descreve o processo “em profundidade” em seu livro citado acima. Alguns optam por reter o pênis com tucking, pois ele diminuirá de tamanho com os bloqueadores de testosterona. Outra opção, mantendo ou não o pênis, é a orquiectomia (remoção do testículo). Minha cliente trans original, Jessica L. não é operada e refere à sua genitália como um “defeito de nascença”.
9. A terapia, novamente, é útil em qualquer ponto durante a transição ou mesmo depois. Algumas pessoas trans esperam ou acreditam que a transição irá “curar” sua depressão ou ansiedade, se sofrerem dessas condições. Definitivamente, vi melhora no humor em meus clientes que fazem a transição. No entanto, se houver outras causas, incluindo genética e química cerebral, elas devem ser tratadas separadamente ou em adição ao processo de transição. Jessica L. continua a trabalhar comigo sempre que está lidando com questões de vida e relacionamento além de sua transição original. Outros que já fizeram a transição vêm trabalhar a questão da depressão ou da ansiedade, ou outras decisões de vida. Pesquisas indicam que os melhores resultados para a depressão são uma combinação de terapia e medicação.
Você merece ter acesso à todas as informações e toda a ajuda que puder obter durante a transição e depois.
Carol Lennox, psicoterapeuta e autora do texto |