quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O crossdressing me ajuda a afastar a dor, o estresse e a raiva

Traduzido de Kumar Shreyansh

Desde pequeno, eu costumava ficar na frente do espelho, normalmente quando não havia ninguém em casa e admirava meu eu feminino. Me dava uma sensação gostosa além de uma felicidade imensa.

Você deve estar pensando que eu sou uma menina, certo? Mas você está muito enganado, porque eu sou um menino – na verdade sou um rapaz de 20 anos.

Eu me considero experimentando um fenômeno psicológico normal de "fetichismo travesti", que é comumente referido como "crossdressing". Ao ouvir esta palavra, você deve pensar em um show de comédia, onde homens vestidos como mulheres "entretêm" as pessoas. Não, no meu caso isso é totalmente diferente. As pessoas se travestem por vários motivos, mas é algo considerado chamativo principalmente em homens como eu. Passei dez anos no armário, experimentando tudo o que estava disponível na minha casa. Agora, eu preciso me abrir e admitir.

Crossdressing ou qualquer coisa relacionada ao tópico é um tabu na minha cultura de origem indiana, apesar da ciência declarar isso como algo "normal". É apenas uma forma de se expressar. Eu, sendo homem, gosto de usar roupas femininas, especialmente lingeries. E deixe-me explicar a razão por trás disso.

Eu uso roupas femininas principalmente para entrar em contato com a parte feminina da minha consciência. Uso vestidos femininos para me livrar da dor, do estresse, da raiva ou de tudo que me incomoda demais – coisas que não consigo resolver sozinho. Às vezes fico perturbado, tanto mental quanto emocionalmente. Preciso de alguém ao meu lado, mas ninguém parece querer me acompanhar. Às vezes, há tanta escuridão que perco a esperança. Em algum momento, eu decidi cometer suicídio. Coloquei uma corda no meu pescoço e estava prestes a me enforcar por causa do estresse que lentamente consumia meu corpo. Mas encontrei algo que me deu esperança. Para escapar desses tempos, comecei a me travestir. Porque quando as energias masculina e feminina se encontram, há criação; há luz; há esperança.

Outro aspecto importante do crossdressing é a orientação sexual. Nem todos os crossdressers são homossexuais. Na verdade, muitas dessas pessoas são heterossexuais. Como no meu caso, uma razão popular por trás desse ato é escapar da tensão da vida cotidiana.

Em uma sociedade conservadora como na Índia, onde todos são forçados a se encaixar em papéis estereotipados de gênero masculino e feminino, tais atos são vistos não só como um crime como também um pecado. Essas pessoas são condenadas ao ostracismo, e são classificadas principalmente como Hijras. Existem muito poucos os que entendem essas pessoas.

Eu tenho usado roupas íntimas femininas desde a 4ª série. Não me lembro exatamente o que me "induziu" a fazer isso. Mas intuitivamente eu sabia o que e como fazer. Eu pegava roupas emprestadas do armário da minha mãe quando não tinha ninguém em casa, eu as usava porque eram muito macias e reconfortantes em contato com a minha pele.

Não pude continuar com isso quando fui para o internato no ensino médio. E depois de não conseguir passar nos exames de vestibular, tirei um ano para estudar em Bhilai. Nessa cidade pude comprar algumas roupas íntimas femininas para mim e gostava de usá-las sempre que estava sozinho. Esse ato me dava alegria, paz e me ajudava a me concentrar muito bem nos estudos.

Em abril de 2016, quando eu estava participando de alguns vestibulares, voltei a vestir essas roupas quando não havia ninguém em casa e acabei indo bem nos exames. Agora estou no meu primeiro ano de Engenharia Aeroespacial em uma importante universidade de Chennai. Tenho como hobbies desenhar, pintar, escrever e ler histórias, tocar violão e desenvolver sites. Tenho amigos que me entendem e me apoiam. Ainda uso roupas íntimas femininas quando estou sozinho em casa e adoro exibir os aspectos femininos do meu corpo na frente do espelho. Eu sou heterossexual.

Quero usar vestidos mais femininos e viver como uma mulher. Eu sinto que posso entendê-las e um pouco do que elas passam. Quero receber o mesmo tratamento e respeito tanto quando estou usando roupas femininas quanto quando me apresento como o meu outro eu. Mas como nossa sociedade considera o crossdressing um crime, parece que sou algum tipo de criminoso nesse sentido. E, portanto, eu deveria ir para a forca.

Mas antes de me julgar, por favor, dê um tempo para refletir sobre como é viver da maneira que estou vivendo minha vida.

9 Comentário(s)
Comentário(s)

9 comentários:

Anônimo disse...

@Criz,
Lindo esse desabafo. Se trocar dw India para Brasil, é minha história de vida.
Obrigado Samantha, por ser um ponto de luz em nossas vidas.
Namastè ;)

Anônimo disse...

Tenho esse fetiche mas não acredito que deve realizá-lo. Sofro um mas acho melhor não ser crossdresser.

Tammilee.tillison@gmail disse...

Antes de ler a matéria quero elogiar a foto do topo. Samantha, você está linda e tem coxas magníficas. Deve se cuidar bem. Imagino que seja muito cheirosa. Vou ler o texto, querida.

Tammilee Tillison disse...

Não sabe o que está perdendo. Perde sua felicidade.

Tammilee Tillison disse...

É claro que a prática do crossdresser traz dificuldades pra sua vida diária.
Superadas as adversidades e inseguranças abre -se um oceano de gratificação e felicidade impossível em qq outra condição da nossa vida. Vestir -se mulher, comportar -se mulher, sentir-se mulher é uma explosão sensorial que te faz renascer, faz parir um ser que nos habita lá bem escondidinho no fundo da alma. Um ser de luz e de prazer.

Anônimo disse...

Eu odeio esse meu lado, pra carai, mas as vezes parece que tem uma mulher dentro de mim querendo se manifestar , de algum jeito e é bem difícil conter pior que eu sou um cara que gosta de ir pra igreja e gosto de Deus, mas n consigo parar, parece até que tenho dupla personalidade 😔

Anônimo disse...

Tenho esse fetiche desde a infância. Busquei no casamento uma fuga. Porém, não deu certo. Hoje, próximo aos 50 anos, vivo sozinho(a). Não me relaciono nem com mulheres, nem com homens. Em casa uso minhas "roupinhas. Vivo em paz, e sinto-me realizado(a).

Anônimo disse...

Relaxa

Anônimo disse...

Também vivo este drama.