Traduzido de Good Therapy
Há muito tempo, meu vizinho solteiro (e bem mais velho do que eu) me confidenciou que um dos seus maiores prazeres na vida era puramente “indumentário”. Não familiarizada com o termo, corri para o meu dicionário e aprendi que significa “relativo a roupas, especialmente masculinas”. Mas esse distinto professor universitário não era muito elegante – suas roupas pareciam comuns, simples e masculinas.
À medida que nos tornamos amigos cada vez mais próximos, ele me confessou que seus interesses de indumentária eram relacionados às roupas femininas e que ele usava lingerie feminina sob seus ternos de tweed há muitos anos. Ele lamentou ter perdido sua última namorada anos antes, quando “o fascínio pelas calcinhas dela martelou em sua cabeça de cetim”. O que oferecia uma excitação sexual para ele era um desestímulo para ela.
Ele queria minha ajuda para comprar vestidos, mas eu usava camisas de trabalho e macacão – estávamos no início dos anos 1970 e ninguém me condenava por me vestir como um trabalhador rural! Como eu não podia oferecer assistência para compras, passei um tempo com ele e o ouvi.
Henry estava sozinho e se sentia profundamente isolado. Ele sentia que não se entrosava com homens gays. “Eles pensariam que sou um homossexual enrustido evitando meu desejo por outro homem”, ele dizia. Ele ainda achava que as pessoas transgênero também o desprezavam: “Eles acham que eu não tenho coragem de agir de acordo com meus desejos trans”. Detalhe, Henry sentia atração sexual por mulheres.
Desde então, aprendi muito mais sobre o crossdressing, um tipo de compulsão ou necessidade que algumas pessoas, principalmente os homens, têm de se vestir como outro gênero, também conhecido como “travestismo”. Aparentemente, a namorada de Henry lidava bem com isso até que ele começou a invadir a gaveta de roupas íntimas dela.
A maioria dos crossdressers masculinos que conheci desde então são heterossexuais, casados e são os últimos caras que você imaginaria se vestindo como uma garota. Muitos escolhem profissões tipicamente masculinas para ajudar a esconder ou mitigar o lado feminino de si mesmos – empregos como bombeiro, mecânico de automóveis ou encanador. Um crossdresser masculino pode obter excitação sexual se vestindo como uma mulher, mas ainda pode manter uma consciência heterossexual quando estiver pelo mundo.
Não sei o que aconteceu com Henry. Eu sei que ele ansiava por uma parceira que o entendesse. Ele esperava especialmente que um dia se casasse com uma mulher que pudesse aceitá-lo com todas as suas peculiaridades e tendências. Naquela época, não acredito que houvesse tanto suporte disponível quanto agora.
Os caras que leem isso enquanto usam roupas com babados podem estar preocupados em serem pegos. Esse medo é compartilhado por muitos crossdressers. Você pode querer procurar a edição mais recente do livro The Tranny Guide (O Guia Travesti, sem versão em português), às vezes referido como “a bíblia travesti” – um livro cheio de sugestões úteis e bem-humoradas. O riso pode realmente ajudar! Outro livro que muitas pessoas acharam útil é The Man in the Red Velvet Dress (O Homem de Vestido de Veludo Vermelho, sem versão em português).
A terapia não vai acabar com seu desejo de se travestir, mas pode ajudá-lo a encontrar a paz consigo mesmo, especialmente se seus relacionamentos íntimos estiverem sendo afetados negativamente.
Então, e se você for uma esposa ou namorada que acabou descobrindo os interesses de indumentáriado seu namorado? Eu recomendo um período de reflexão de 90 dias antes de tomar qualquer medida drástica. Converse com ele sobre o que ele faz e por quê. Leia qualquer coisa escrita por Frances Fairfax, especialmente A Wives’ Bill of Rights (Uma Declaração de Direitos das Esposas, sem versão em português). Dê uma olhada no site da The Society for the Second Self ou “Tri-Ess”, uma organização nacional para crossdressers, suas esposas e suas famílias. Essas pessoas fazem de tudo, desde acampamentos a grupos de discussão e passeios de ônibus, e podem ajudá-lo a encontrar um grupo de apoio local.
Uma esposa me disse anos atrás que teria sido mais fácil aceitar o marido se ele anunciasse que era gay. Ela sentiu medo de perder "a parte masculina dele – a parte sexual". Isso não aconteceu. Com o tempo, ela aceitou: “Há coisas piores que ele poderia estar fazendo, e descobri que ele é o mesmo cara por quem me apaixonei antes dele lançar a roupa de Little Bo Peep (A Pequena Pastorinha) para o Halloween. Nem sempre tolero suas declarações de moda, mas também não preciso me divorciar dele."