Traduzido de Claudia Tyler-Mae
A adorável Sarah Lewis tem um post aqui onde ela responde a alguns questionamentos sobre as suas taras sexuais. Gostei tanto que pensei em responder às mesmas perguntas.
Compare e contraste se quiser. Caso contrário, apenas me julgue. E veja se me importo.
10. Você quer ser mulher?
Não. Eu seria péssima nisso. Sou sem graça, insensível, tenho poucas habilidades sociais e um senso de vestimenta de um pato.
Ou não. Meu gênero não é um problema para mim. No dia a dia não me preocupa como as pessoas me percebem. Se eu fosse uma mulher, ainda andaria de jeans e camiseta, me esqueceria de marcar hora no cabeleireiro e trataria as outras pessoas exatamente como trato agora.
Ou… Sim, quero ser graciosa, socialmente habilidosa, cuidar da minha aparência, poder expressar minha sexualidade e ter total liberdade na maneira de me vestir.
Certa vez, li uma longa ficção sobre uma Dominadora que captura um homem e lentamente o transforma em mulher. No final, ele(a) passou pela cirurgia de mudança de sexo e viveu como mulher. Isso me fez chorar. Não porque era o final feliz que eu queria para mim, mas porque eu sei que não posso ter esse final feliz.
Não sou tão motivada por minha identidade a ponto de querer me tornar uma mulher com sucesso – nem me encaixo na definição de transexual. Em vez disso, sento-me em algum lugar dentro do espectro, levemente disfórica às vezes, simpatizante da ideia e desesperada pelo papel de gênero, mas, no final das contas, ainda me sinto masculino e sem uma "resposta fácil", sem um final feliz como uma linda princesa.
Realmente não é uma princesa |
É frustrante e triste, mas não há nada que realmente mude essa situação, a menos que alguém invente uma varinha mágica que realmente funcione. Meu lado masculino normalmente vence a batalha e, no geral, está tudo bem.
9. O que você é, uma transgênero, crossdresser ou travesti?
Infelizmente, o crescimento da mídia social como uma arena para travar guerras de palavras e buscar injustiças significa que as palavras foram politizadas. Estou com Stephen Fry quando ele diz que não devemos dar poder às palavras sobre nós. Não devemos tratá-las como tabus perigosos. Certamente não devemos cair no revisionismo histórico, onde minhas palavras significam o que você as interpreta.
No entanto, algumas pessoas pegaram termos que a pouco tempo atrás eram comuns e passaram a dizer que agora eles são inaceitáveis. No Reino Unido por exemplo, elas significavam algo diferente: tranny era uma contração de transvestite, que é apenas uma maneira elegante de dizer que alguém “gosta de se montar” (parecido com o termo travesti no Brasil).
Nos EUA, porém, tranny era comumente usado para se referir a transexuais – especificamente no contexto pornografico. Então agora é considerado um termo humilhante. E como o Twitter e o Facebook não fazem distinção entre britânicos e ianques, a ofensa viajou para onde o termo não havia intenção de ofender.
Então, eu era uma travesti... feliz com o termo travesti muito menos público do período escolar... e agora sem-teto porque me sinto trans-algo sem exatamente um termo.
8. Por que a obsessão pelo papel feminino submisso?
Resposta curta: porque elas ficam com as melhores roupas.
Resposta longa: Inicialmente, havia muita culpa em me produzir. Uma maneira de lidar com isso era fantasiar que “não era eu” que estava escolhendo me montar. Talvez fosse outra pessoa me forçando... tudo isso foi contra a minha vontade. Esse é um tema muito comum em ficção trans.
Depois, há uma enorme quantidade de sexualidade e sensualidade que estou explorando como Claudia. Acho difícil expressá-los como homem. Eu gostaria de ter a liberdade sexual e a abertura que os outros desfrutam – mas com um disfarce de menino que parece ser um homem das cavernas que arrasta sua vítima de volta para a caverna. Não sou eu. Então, como você consegue fazer todas as travessuras sexuais selvagens que você pode imaginar e não agir como uma ferramenta? Seja uma coisinha indefesa!
Você não sabe o que estou pensando… |
Em nossa sociedade impulsionada pela imagem, há tantas maneiras de expressar isso, desde que você assuma o papel feminino. Seja uma bimbo, uma puta por atenção, uma vagabunda... como os esquimós que têm trinta palavras diferentes para neve, a linguagem visual que as mulheres têm de jogar para expressar um papel é infinitamente mais rica do que o equivalente masculino.
Em última análise, o papel feminino submisso não é apenas um atalho para um monte de expectativas, mas também representa alguém que seja absolutamente um objeto de desejo. Quem não gostaria de ser um objeto de desejo?
7. Por que você mentiu (e ainda mente) para seus amigos e familiares?
(Essa pergunta não se aplica, pois amigos íntimos e familiares sabem sobre Claudia. Ainda assim, escolho não ser aberto sobre esse meu lado para todos.)
Simplesmente porque este não é um estilo de vida. Não trabalho como Claudia, não vou às lojas como Claudia. Eu tenho o "luxo" dessa escolha, para evitar confrontos e desafios. Embora me deixe triste e em conflito fazer isso, é a opção menos pior para mim (veja a parte do “Eu seria péssima nisso..,” acima).
Então, por que devo impor algo muito pessoal às pessoas ao meu redor? Parece-me muito egoísta pedir que me cedam e sobrecarregar-lhes para lidar com os meus conflitos. Meus amigos e familiares mais próximos sabem – porque de várias maneiras isso afeta esses relacionamentos. Mas, além disso, escolho não contar a todos, exatamente da mesma forma que escolho não contar a eles minha posição sexual favorita ou minhas opiniões sobre política e religião.
A menos que eles perguntem, isso é…
6. Você se sente menos homem ou tem vergonha do que faz?
De jeito nenhum. É um ato criativo para mim e também um ato de bravura expor esses sentimentos crus ao mundo. A culpa da infância ainda está lá no fundo, mas é temperada pelo conhecimento de que posso escolher fazer o que quiser, me apresentar da melhor maneira possível e dar um exemplo positivo para as pessoas que encontrar.
Eu não dou importância a ser "mais homem" do que os outros, então isso não é um problema. Também não estou particularmente envergonhado. Aliás, quando faço uma boa foto, ou monto um visual coerente, fico muito orgulhoso do meu trabalho. Veja! Sou alguém que tem minhas coisas sob controle, estou na moda, sou fotogênica! Na verdade, a pressão para ainda ser capaz de caber em um vestido e parecer meio decente com maquiagem me pressiona a manter minha saúde e boa forma – e, novamente, isso é uma coisa positiva.
5. Você é uma pessoa pervertida?
Foto da mais pura inocência |
Eu tive que procurar a definição de "pervertido" para responder a isso! Diz “desviar-se moralmente”. Eu sou imoral? Não, eu não penso assim. Não obrigo ninguém a fazer nada, não peço a ninguém que aja de forma imoral comigo ou com os outros. Sou sexualmente mais aberto, mas acredito firmemente que os outros devem reconhecer como reagem a isso. Tenho um código moral que envolve não prejudicar os outros e respeitar seus direitos e desejos.
Eu gosto de coisas que não são "baunilha", que uma pessoa comum na rua acharia chocante? Sim. Porém, não é da conta deles e, como um adulto consentido, é minha escolha o que faço com meu corpo ou com outras pessoas.
4. Você não acha que está sendo muito machista?
Às vezes eu me visto de maneiras muito estereotipadas. Isso significa que acho que todas as mulheres – ou mesmo qualquer mulher – se encaixam nesse estereótipo? De jeito nenhum!
Embora uma fantasia de empregada doméstica francesa seja uma abreviação conveniente para "por favor, espanque-me", não acredito que você possa presumir o que alguém quer apenas porque ela está vestida de uma maneira específica. Também não acho que as mulheres possam ser colocadas em papéis com base em seu gênero ou aparência. Não apenas mulheres – qualquer pessoa.
Uma coisa estranha que percebi como consequência disso é que posso me vestir como a Peppa Pig e me sentir completamente impotente e efeminado, mas uma mulher escolhendo por sua própria vontade se vestir da mesma maneira é (para mim pelo menos) empoderador. Sim, a Peppa Pig pode chutar a minha bunda. Eu disse isso.
O grande ponto aqui é que não cabe a outra pessoa interpretar como me sinto ou o que eu quero com base em seus preconceitos. (A chamada slut shaming). Por sua vez, estendo essa cortesia para aqueles ao meu redor. Seu gênero (e sua aparência) não dita como me sinto sobre você – suas ações e palavras sim.
3. E se seus amigos/colegas de trabalho descobrirem sobre seu "pequeno hobby"?
Ha!
Quando me assumi pela primeira vez – para amigos e na internet, tomei muito cuidado para manter tudo positivo e genuíno. Sim, isso é uma coisa sexual, mas não mostro minhas partes íntimas, não me escondo ou me esgueiro, não estrago nada que se mova e defendo o consentimento e a autoconsciência. Eu sou uma boa garota, honestamente!
Então, se alguém descobrir isso sobre mim, espero que não haja nada para se envergonhar. Infelizmente, isso não impede que as pessoas se sintam desconfortáveis com isso, nem impede que as pessoas queiram fazer você se sentir desconfortável com isso. Para ser honesto, porém, eu me recuso a me sentir mal com os preconceitos de outras pessoas, então, no geral, eu agiria descaradamente.
O diabo em mim seria tentado a ir trabalhar no dia seguinte em plena forma. Eu me perguntei sobre ir à reunião da escola totalmente renovada apenas para mexer com suas mentes. Mas isso apenas favoreceria as opiniões dos poucos intolerantes. Não se trata de táticas de choque, e eu tenho (apenas) consciência social suficiente para entender quando as pessoas podem se sentir estranhas por um cara de vestido.
Se você se aprofundar na rede, nos círculos certos, sou mais aberto sobre o lado sexual das coisas - ainda de uma forma positiva (espero) e defendendo a criatividade, o consentimento e a honestidade. Há mais suco lá para as pessoas que querem causar controvérsia - mas então você tem que perguntar como eles descobriram isso em primeiro lugar? Em última análise, diz mais sobre eles do que sobre mim.
2. Você já teve intimidade com um homem?
Não. E não tenho vontade. Entendo que algumas pessoas trans acham que sua preferência sexual muda quando se vestem de maneira diferente. Para elas, sentir-se feminina está associado a como devem se sentir em relação aos homens e como devem agir.
No meu caso, porém, como pareço e como me sinto feminina não muda "eu" sendo "eu". Ainda me sinto atraído pelas mesmas pessoas e ainda quero fazer as mesmas coisas que gostaria de fazer na monotonia. Algumas pessoas definem isso como sendo "trans-lésbica", mas essencialmente, eu sou apenas uma garota feminina, não importa como eu me vista.
1. Você é gay?
Não. Tenho alguns amigos gays adoráveis, participei de marchas do orgulho gay e recebi algumas ofertas ao longo dos anos (deveria ter ido para Specsavers), mas não é algo que funciona para mim.
Claudia Tyler-Mae, autora do texto |