Menu

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Por que ser transgênero não é uma escolha

Traduzido de Haylen Rosa

Nas discussões em torno da diversidade de gênero persiste um equívoco comum: a ideia de que ser transgênero é uma escolha pessoal. É crucial dissipar este mal-entendido e reconhecer que a identidade de gênero de uma pessoa é um aspecto profundamente enraizado de quem ela é.

Compreender porque é que ser transgênero não é uma escolha é essencial para promover a empatia, o respeito e criar uma sociedade mais inclusiva.

“a identidade de gênero de uma pessoa é um aspecto profundamente enraizado de quem ela é.”


Natureza inerente da identidade de gênero

 A identidade de gênero, o sentimento profundo de ser homem, mulher ou outro gênero, é um aspecto fundamental da identidade humana. Para indivíduos transgêneros, sua identidade de gênero não se alinha com o sexo que lhes foi atribuído no nascimento. Este desalinhamento não é uma decisão consciente, mas sim um aspecto inato da sua identidade.

Coisas que são escolhas: Racismo, transfobia, misoginia, queerfobia, capacitismo;
Coisas que não são escolha: Ser deficiente, sexualidade, identidade de gênero, etnia ou raça.


Evidência científica

Numerosos estudos científicos apoiam a compreensão de que ser transgênero não é uma escolha. A pesquisa indica que fatores biológicos, genéticos e hormonais contribuem para o desenvolvimento da identidade de gênero. Estas descobertas destacam a complexidade do gênero e os fundamentos biológicos que influenciam a forma como os indivíduos se percebem.

Não é uma lista exaustiva, mas aqui estão alguns desses estudos médicos:

  1. National Academy of Sciences, Engineering, and Medicine Report – A Saúde de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros;
  2. American Psychiatric Association (APA) – A APA reconhece que a identidade de gênero é um sentimento profundo de ser homem, mulher ou qualquer outra coisa;
  3. Variantes genéticas fornecem informações sobre a incongruência do cérebro e do corpo em transgêneros;
  4. Estudo sobre a estrutura cerebral antes da terapia de reposição hormonal – o sexo cerebral em mulheres transgênero é transferido para a identidade de gênero;
  5. Scientific American – Existe algo único no cérebro transgênero? Estudos de imagem e outras pesquisas sugerem que existe uma base biológica para a identidade trans;
  6. Pesquisa genética sobre a complexidade das variantes genéticas além do mito de existir apenas variações XY e XX.


Consistência entre culturas e épocas

A experiência de ser transgênero não está confinada a uma cultura, época ou localização geográfica específica. Indivíduos trans existem em diversas sociedades e ao longo da história, reforçando a ideia de que ser transgênero não é uma tendência cultural ou um fenômeno contemporâneo, mas um aspecto consistente da variação humana.

Indivíduos trans existiram em várias culturas ao longo da história. Exemplos incluem:

1. Hijra no Hinduísmo: A comunidade Hijra no Sul da Ásia tem uma longa história e é reconhecida como um terceiro gênero em países como a Índia, Paquistão e Bangladesh. Hijra, também conhecida como Aravani, tem uma presença histórica na cultura hindu, sendo muitas vezes considerada mágica e serva direta da realeza.

2. Dois Espíritos nas Culturas Nativas Americanas: Muitas culturas nativas americanas reconheceram historicamente pessoas com Dois Espíritos, indivíduos que incorporam qualidades masculinas e femininas.

3. Fa’afafine em Samoa: Na cultura samoana, os Fa’afafine são indivíduos que se identificam e vivem como um gênero diferente do sexo que lhes foi atribuído no nascimento.

4. Kathoey na Tailândia: Kathoey, muitas vezes traduzida como ladyboys, são mulheres transgênero na Tailândia que têm sido uma parte visível da cultura tailandesa durante séculos.

5. Berdache nas culturas das planícies dos nativos americanos: O termo berdache foi historicamente e pejorativamente usado para descrever indivíduos em algumas culturas das planícies dos nativos americanos que assumiram um papel de gênero diferente do sexo atribuído.

Estes exemplos ilustram a diversidade de atitudes culturais em relação à identidade de gênero ao longo da história. É importante abordar estes temas com respeito pelos contextos culturais específicos envolvidos.


Implicações para a saúde mental

A noção de que ser transgênero é uma escolha contribui frequentemente para estigmas e discriminação prejudiciais. A pesquisa mostra que a pressão social e a falta de aceitação podem ter impactos negativos na saúde mental dos indivíduos trans.

Reconhecer que ser transgênero não é uma escolha é crucial para reduzir o estigma, aumentar a empatia, a inclusão e promover o bem-estar mental.

Deve-se notar que, embora as pressões sociais, os efeitos da disforia de gênero e a situação pessoal possam contribuir para problemas de saúde mental, o transgenerismo em si NÃO é um distúrbio de saúde mental, apesar de já ter tido essa denominação no passado e ainda causar equívoco popular.


Autenticidade Pessoal

Os indivíduos trans muitas vezes embarcam numa jornada de autodescoberta e autenticidade, procurando alinhar o seu eu externo com o seu sentimento interno de identidade. Esta jornada reflete um esforço genuíno para viver de forma autêntica, livre das restrições das expectativas sociais, em vez de uma escolha feita levianamente ou caprichosamente.


Diversidade de experiências de gênero

As diversas experiências de indivíduos trans destacam que a identidade de gênero é um aspecto complexo e variado da existência humana. A jornada de cada pessoa é única, enfatizando a individualidade e autenticidade da sua identidade de gênero. Reconhecer esta diversidade é essencial para promover a compreensão e a aceitação.


Perspectivas Jurídicas e Médicas

Muitos países e organizações médicas reconhecem a legitimidade das identidades transgênero, afirmando que ser transgênero não é uma escolha, mas um aspecto válido da diversidade humana. As proteções legais e o apoio médico para indivíduos transgênero sublinham a importância de reconhecer e respeitar a sua identidade de gênero.


Conclusão

Compreender que ser transgênero não é uma escolha é um passo crítico para a criação de uma sociedade mais inclusiva e compassiva.

Ao reconhecer a natureza biológica, consistente e inerente da identidade de gênero, podemos promover a empatia, reduzir o estigma e criar ambientes onde os indivíduos possam abraçar o seu eu autêntico sem medo de julgamento ou discriminação.

Abraçar este entendimento é fundamental para promover o respeito, a dignidade e a igualdade para todos, independentemente da sua identidade de gênero.

0 Comentário(s)
Comentário(s)

Nenhum comentário:

Postar um comentário