Traduzido de um relato no Reddit
Por que você não consegue simplesmente parar com esse hábito e como é possível aprender a conviver com ele (desmascarando o mito da dependência de dopamina)
Esta é a síntese do que eu aprendi ao longo de 12 anos de experiência própria. Espero que isso seja útil para alguém, mesmo que ajude apenas uma pessoa.
Saiba que não vou dar uma solução pronta como as pessoas que simplesmente te aconselham a parar de assistir pornografia. Até por que soluções prontas raramente funcionam. E sei que provavelmente serei criticado porque estou indo contra o que é comumente recomendado na internet e contra o que você deseja ouvir, mas o senso comum raramente está correto.
Entrando numa espiral
Praticar fetiches de feminização não é intrinsecamente ruim. Existem muitos motivos pelos quais eu penso assim. Acho que a maioria das coisas que aprendemos sobre identidade de gênero é besteira e você pode ser o que quiser, pode ter relações sexuais como e com quem quiser. Acredito que os comportamentos masculinos e femininos devem ser tão livres quanto o ar que respiramos. E acredito que a codificação social estrita dos comportamentos sexuais de gênero cria diversos tipos de problemas para as pessoas.
Pessoalmente acho que todo mundo gosta de algum sentimento relacionado à humilhação em alguma intensidade (seja para humilhar ou para ser humilhado), e se não gosta, pode ser que esteja se reprimindo. Acho que os papéis sexuais, como ser dominante ou ser submisso, são apenas um mecanismo da nossa sociedade e todo mundo gosta, em algum nível, de desempenhar ambos. No final das contas, ambos são irrelevantes de alguma maneira. Porque toda polaridade é apenas um mecanismo. (Sugiro que você leia esse artigo sobre BDSM)
Sofremos ao aprisionarmos à nossa identidade a partir de polaridades (masculino/feminino, gay/hétero, dominador/submisso, e assim por diante). Em última análise, uma mente verdadeiramente livre não precisa de rótulos semelhantes. Ela precisa apenas de sua própria vontade. Sua própria volição.
Mas não me interprete mal.
No começo eu era totalmente avesso ao meu fetiche de feminização. No início, tentei usar meu ego para parar de me entregar a essa vontade e parar de pensar na feminização... mas isso só piorou as coisas. Descobri que esse fetiche, assim como outros, se alimenta de sentimentos de culpa e de vergonha. Então eu deixei rolar. Fui o mais fundo que pude para me explorar... pensando que se eu encostasse no fundo do poço... eu poderia encontrar o fim de tudo.
Foi útil descobrir exatamente por que eu sentia culpa e vergonha nessas circunstâncias.
Eu acreditava, e ainda acredito, que remover esses tijolos era necessário para resolver a raiz do problema em si. E à medida que eu ia mais fundo, aceitando cada vez mais sobre mim mesmo e sobre esse fetiche... parei de perceber a feminização como um problema.
Então passei a conversar com vários estranhos online, enviando minhas fotos e programando minhas aventuras de feminização para os próximos meses. Achei que estava tudo bem. Achei que era agradável... então por que não? O que há de errado com isso?
Não tenho problema com a feminização em si e posso ver outras pessoas desfrutando disso de uma maneira saudável. De uma maneira que descobri que não era exatamente possível para mim. Então um novo problema surgiu. Ele sempre esteve lá, mas só agora se tornou perceptível para mim.
Quando me livrei da maioria das minhas noções preconcebidas sobre identidade e sexualidade, às vezes eu passava das 16h às 2h da manhã me masturbando. Foi agradável? Sim, com certeza. Da mesma forma que é ao se aplicar uma dose de droga. Inclusive entendo por que muitos dizem que o fetiche e a masturbação podem ser comparáveis a uma droga.
Não tenho certeza se esse fetiche (e seus outros componentes, como uma possível disforia – que eu acho que tive em algum momento da minha vida) foi causados pelo meu abuso de pornografia na adolescência ou não. Isso pode nem ser relevante para minha situação real. Suspeito que mesmo que eu parasse totalmente de assistir pornografia e tudo relacionado, mesmo assim... esse fetiche ficaria comigo.
E isso não é um problema. Na verdade, quero destacar que isso não é "o" problema.
Não é o problema da mesma forma que eu adorar açúcar e doces não é necessariamente um problema. É uma parte de mim. Ambos são necessários para mim. Ambos se originaram para me ajudar e me fazer florescer. Eles tinham um motivo para existir. E ainda assim, ao longo do meu caminho, seu propósito foi ficando cada vez mais fraco... Ao ponto da feminização não ter mais um propósito na minha vida. E enquanto posso me dar ao luxo de comer algo doce sem me prejudicar muito, não posso fazer o mesmo com a minha fantasia sexual.
Sinceramente, espero que a força desse fetiche diminua com o tempo, mas sei que provavelmente ele ficará comigo para sempre. Agora está voltando a soa como algo ruim... E por que seria algo ruim para mim? Porque eu tinha outras coisas para fazer naquelas noites: projetos para me dedicar, pessoas que eu gostaria de ver. E quando eu começava a me masturbar e me entregava à feminização, não conseguia me controlar. Eu sentia uma necessidade contínua que tomava conta das minhas melhores intenções.
Era mais fácil eu me entregar. Então deixei rolar...
Eu não tinha nenhum sistema de freio, ainda porque não estava ciente que existiam consequências desse fetiche que seriam intrinsecamente ruins para mim. Não é sobre me tornar gay, ou bi, ou qualquer outra coisa assim. Não é sobre o lado humilhante do processo. Nem mesmo é sobre o sentimento de vergonha e culpa. É como isso toma conta da sua mente, apagando qualquer projeto ou programa que você deseja fazer para si mesmo.
É como isso faz você perder não apenas algumas horas, mas um dia inteiro e talvez, nos piores casos, até mais. É como amanhã vou me sentir como se tivesse tomado uma droga pesada hoje porque essa é a consequência de 10 horas seguidas de masturbação e excitação. A culpa e a vergonha são sentimentos morais, mas um arrependimento leve é a conclusão de alguém que passou por um longo caminho.
Por que estou te contando todas essas coisas sobre identidade, psicologia, crescimento? Por que não estou falando sobre vício em pornografia e dopamina?
Não estou falando sobre isso porque vícios duradouros tem base psicológica, não química. É aí que a maioria das pessoas falha em entender o problema do vício em pornografia, assim como o problema do vício em feminização. E falhando nisso, eles falham em se recuperar. Para se livrar desse fetiche, você precisa entender melhor a si mesmo psicologicamente e crescer como pessoa. Apenas parar de assistir pornografia por si só não funcionou para mim e provavelmente não vai funcionar para a maioria das pessoas.
Minha intenção não é te incentivar a isso e até acho que o consumo de pornografia em si é um hábito negativo. Mas também acho que evitar a pornografia ou diminuir seu uso não deveria ser o seu foco. Entendo que deveria ser uma consequência do que você está concentrando sua energia e atenção.
Embora eu ainda me considere um tanto quanto "viciado", eu parei espontaneamente de assistir hipnoses de feminização há anos. Então parei de assistir outras categorias de pornografia de humilhação (como as instruções de masturbação). Neste ponto, meu uso de pornografia diminuiu muito. Sem eu realmente tentar fazer isso acontecer.
Se você reparar, vai perceber que eu estava, de certa forma, fazendo justamente o oposto. Não sugiro que você siga exatamente o mesmo caminho que o meu (talvez um semelhante?). Em vez disso, quero contribuir com o que acredito ser uma mudança de paradigma para esta comunidade e pessoas que sofrem de vício em pornografia de feminização.
No geral, acredito que quanto mais pessoas deixarem de praticá-la de forma estável, sustentável e de longo prazo, mais essa "dependência" perderá a força e mais fácil será derrotá-la para as pessoas que ainda desejam. E o mundo será um lugar um pouco melhor.
Conclusão
Você não está doente, você não precisa se recuperar. Você precisa crescer como pessoa. Você precisa superar a si mesmo e esse processo exige que você passe por dor, depressão e todo tipo de merda desagradável. Exige que você mude a si mesmo e sua vida. E eu sei que é assustador, mas é a única maneira. Você derrotará o seu vício no dia em que conseguir ser grato por ele ter sido, ou se ainda é, uma parte de você. No fim, ele fez crescer a sua força interna para gerenciá-lo, porque ele fez você descobrir coisas e partes de si mesmo que você teria ignorado de outra forma. Esse dia será um dia feliz.
Lembre-se de que no fundo ninguém se importa se você é gay, ninguém se importa se você deixa outras pessoas te humilharem entre quatro paredes, ninguém se importa que você esteja jogando sua vida fora fazendo besteiras como assistir horas de pornografia.
Tudo bem. Está tudo bem.
Você vai morrer sozinho, você não vai construir nada, você vai ter uma vida medíocre e vazia, sem nenhuma conexão verdadeira... e daí? É o que acontece com a maioria das pessoas. Pare de se estressar com essas besteiras e relaxe. Você terá uma visão muito mais clara. E se não tiver, bem, pelo menos você viverá de uma forma mais agradável do que teria vivido de qualquer maneira.
O primeiro passo para evoluir
Se você olhar de perto para a feminização, perceberá que ela é estruturada de uma forma que desencadeia o máximo de inseguranças possível sobre o ideal ocidental de ser um homem. Não é tanto corrigir essas inseguranças melhorando sua vida ou a si mesmo (você continuará se sentindo inseguro sobre elas, perseguindo um objetivo sem fim), quanto tornar sua imagem mental do que é um homem menos sagrada. Melhor ainda: arranque-a completamente da sua mente.
Coisas que ajudam
Aprenda a perceber quando você precisa relaxar, aprenda estratégias eficazes de gerenciamento do estresse. Drogas e suplementos ajudam? Tentei praticamente tudo. Sei que bloquear a testosterona impede os desejos sexuais de maneira geral, incluindo o seu fetiche. Isso até contraria a crença comum que afirma que esse fetiche se origina da falta de testosterona (ou outros atributos masculinos).
Das muitas coisas que tentei, apenas as coisas que aumentam o neurotransmissor serotonina ajudaram, mas suspeito que ajudaram principalmente porque aumentam seu bem-estar geral enquanto diminuem seu estresse percebido.
Quanto mais baixo for o nível de sua linha de base de saúde psicológica, mais você pode obter ajuda por meio de terapia psicológica normal. Defendo especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental. Um livro muito bom sobre seus principais conceitos é A Guide To Rational Living (Um Guia para a Vida Racional, sem edição em português) de Albert Ellis.
Recomendações comuns que funcionam: Exercite-se, divirta-se e passe menos tempo sozinho e/ou online. Tenha uma dieta equilibrada, evite alimentos ruins, durma o suficiente.
0 Comentário(s)
