Traduzido de Sarah H.
Percebo que parte dos textos de pessoas transgênero busca expor a própria experiencia, então aqui está a minha: passei por uma destransição involuntária e terei uma possível retransição.
Nasci em 1975, filho único. Meu pai era engenheiro de aviação, pilotava aviões Jumbo 747, minha mãe era aeromoça e depois largou o emprego quando eu nasci. Eu cresci com o que eles chamam de “pais helicóptero” na Alemanha. Minha mãe sempre estava por perto, e meus pais realmente queriam que seu filho tivesse um futuro brilhante, então eles apoiaram tudo e qualquer coisa que eu quisesse fazer. Eu tinha muitos livros, um microscópio, kits de experimentos eletrônicos, muitas e muitas coisas para brincar e um dos primeiros computadores domésticos lançados (Commodore 64). Na minha juventude, eu tinha cabelos longos e loiros e muitas vezes era confundido com uma menina. Eu não me importava. Eu realmente não me importava, até porque gênero era um conceito meio estranho para mim. Meus pais até me deram uma boneca quando eu quis ter uma, mas no final da adolescência também fizeram questão de deixar claro com o que “meninos” brincam e com o que “meninas” brincam, que cores eles usam e como eles se comportam. Nunca cresci “sabendo” que algo não estava certo, mas, de qualquer maneira, comecei tarde.
As coisas mudaram quando fiquei mais velho, por volta dos 19 anos. Quando eu via uma garota, podia sentir duas reações. Primeiro poderia ser a reação típica de “ah, eu gosto dela”, mas com mais frequência me pegava imaginando como eu ficaria naquele vestido, naquela saia, jeans ou o que quer que ela estivesse vestindo.
Também foi assim que as coisas começaram: uma loja em uma cidade grande por onde passei vendia saias masculinas. Era uma marca alemã bem conhecida, então… embora eu soubesse que “isso não estava certo” (devido aos meus pais), ainda assim comprei aquela saia naquele dia. Minha coleção de itens femininos começou a crescer durante meu tempo na universidade, principalmente as saias. Meus pais estavam pagando por uma universidade privada de elite na Alemanha, comparável a Cambridge ou a Harvard (estudando ciência da computação e administração de empresas). Eu também fui morar nos Estados Unidos por um ano em 1997.
Eu ainda estava me sentindo envergonhado, realmente não sabia o que estava acontecendo. Concluí meus estudos em 2000 aos 25 anos e, com a crescente popularidade da internet, logo entrei em contato com outras pessoas transgênero, também da minha região. Encontrei um grupo local de autoajuda, que recomendou uma esteticista próxima que poderia me montar como mulher. Eu não tinha certeza se deveria fazer algo assim, afinal, era como um fruto proibido. Apesar disso... Liguei para ela, ela foi bastante simpática, marquei uma consulta e fui “transformada em menina” por ela. Bem, mais ou menos. Eu já havia comprado uma peruca baratinha para a ocasião, e assim que ela arrumou tudo, ela me deu um espelhinho de mão para eu dar uma olhada. Ainda hojeme recordo daquele momento... Eu apenas tinha que sorrir. Era uma sensação de felicidade que eu não tinha experimentado até então.