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quarta-feira, 9 de março de 2022

Por que a maioria das mulheres não usa mais vestido?

Essa é uma dúvida que eu tenho certeza que paira na mente de diversos crossdressers: se as mulheres tem liberdade plena de usar vestido, salto alto, maquiagem e tudo mais, por que a maioria delas prefere adotar roupas confortáveis, casuais e sem graça?

Claro que o nosso estilo de vida corrido e agitado responde bem essa questão, mas mesmo assim ainda existem diversas mulheres que não fazem nenhuma questão de usar essas coisas consideradas femininas em nenhuma situação e se sentem bem assim. No texto a seguir a Anna Brianna, uma mulher trans que vive no armário, tenta buscar uma resposta mais concreta a respeito dessa questão.

Traduzido de Anna

Vestidos não são apenas para ocasiões especiais.
Por que não usá-los com mais frequência?

Ontem, quando eu estava trabalhando em casa, minha esposa me disse que precisava participar de uma reunião remota para o seu trabalho e que duraria cerca de uma hora. Naquele momento eu pensei que seria bom ficar um pouco montada enquanto ela estava ocupada. É mais fácil para mim dessa maneira. Eu me um produzo por uma hora e ela não precisa se sentir desconfortável. Ela afirma que não se importa, mas acho que eu ainda estou me sentindo tímida.

Resolvi usar um dos meus vestidos favoritos. Era um vestido floral preto e creme acinturado com manga 3/4 e de comprimento até logo abaixo dos joelhos. Tem um pouco de decote também. Belíssimo, muito feminino. Eu usei minha peruca castanha com corte em camadas e encerrei o visual com meus sapatos de couro preto e salto de 10cm de altura.

Eu me senti tão bonita. Foi tão gostoso. Foi quando me questionei: “quando foi a última vez que vi uma mulher usando um vestido?” Faz algum tempo. Então me lembrei. A última pessoa que vi usando um vestido era um garoto perto da faculdade das minhas enteadas, quando estávamos levando elas para começar o último ano delas. Isso mesmo, era um rapaz.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Meu marido é crossdresser, e agora?

Como o ultimo artigo foi meio pesado ao tratar a respeito de um relacionamento que acabou em divórcio por conta do crossdressing do marido, resolvi trazer outro com a mesma temática para equilibrar as coisas e fechar a série com chave de ouro. Dessa vez o artigo é de um site especializado em relacionamentos que tenta explicar para as esposas de crossdresser o que é essa expressão atípica do marido delas e sugere algumas dicas para que o relacionamento do casal possa continuar de maneira saudável.

Adaptado de Her Norm

Como você reagiria se descobrisse que o seu marido está usando calcinha sob o terno ao seu lado em um jantar? Ou se você se deparasse com fotos do seu marido totalmente travestido como se fosse uma modelo que você teria admirado se não tivesse notado as características distintas dele?

Cada mulher irá reagir de maneira diferente à descoberta de que seu marido é crossdresser, e a reação é fortemente influenciada pela maneira como ela descobre isso. De suspeitas depois que ela percebe que a sua melhor lingerie está sumida, até flagrar o marido totalmente travestido quando volta para casa mais cedo do que o normal, a descoberta quase sempre será impactante.

Algumas mulheres acham isso um caso fascinante e intrigante, mas a maioria se abalada como se estivesse no meio dos tremores de um grande terremoto. O que causa essa reação na maioria das pessoas? Uma possível resposta é que, quer a esposa descubra ela mesma, quer o marido resolva se abrir (algumas mulheres preferem saber disso como uma confissão), esse detalhe normalmente será um segredo muito bem guardado pelo homem.

Vale dizer que os crossdressers do sexo masculino se preocupam muito com a percepção que as outras pessoas têm deles e, na maioria dos casos, o marido até tenta expurgar esse aspecto de sua personalidade para os limites da inexistência. Desde sempre houveram homens crossdressers que conseguiram expressar plenamente sua feminilidade se vestindo como mulheres, como observado no artigo Uma História Secreta de Cross-Dressers (Sébastien Lifshitz), mas a maioria dos homens tem o azar de não ter a oportunidade de conseguir se apresentar como uma Dolly Parton. Então eles se esforçam para reprimir qualquer vontade que apareça.

Então este artigo explica resumidamente o que é crossdressing, aborda sobre o desejo de um homem de se travestir, apresenta outras opiniões sobre o tema e sugere dicas de como se ter um relacionamento saudável ao lado de um parceiro que é crossdresser.

A coisa mais importante a se ter em mente neste momento é que, se vocês dois estiverem dispostos a contornar a situação, o seu relacionamento sobreviverá e o travestismo dele não tornará o convívio de vocês drasticamente desagradável. Espero que as dicas deste artigo te ajudem a resolver as coisas com o seu parceiro, especialmente se para você isso soar como um pesadelo que se transforma em realidade.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Existe um terceiro sexo? (texto de 1906)

Se você acha que a "ideologia de gênero" é um projeto moderno da esquerda feito especialmente para destruir a família e a heterossexualidade, sinto dizer mas você está enganado. O texto a seguir veio do livro "Mannweiber und Weibmänner" (Homens mulheres e Mulheres homens – Tradução livre) de 1906 escrito por Anne von den Eken e também foi publicado na revista alemã O Terceiro Sexo em 1930.

O artigo trata justamente das pessoas que não se encaixam perfeitamente no binarismo de gênero e questiona a ideia de que exista um terceiro sexo. Na visão da autora, o masculino e o feminino são duas forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as pessoas e ela usa da biologia para embasar a origem disso. Sinceramente, eu não esperava que um texto escrito a mais de 100 anos atrás pudesse estar tão alinhado com o que eu penso.

Traduzido de The Weimar Project

Sempre classificamos as pessoas em apenas dois sexos. Mas, por vários anos, o termo “terceiro sexo” tem aparecido com frequência (1). Milhares de pessoas usaram a frase, brincando de improviso ou zombando, sem ter noção de quanta tristeza e sofrimento, quanta luta e desespero se esconde por trás desse termo. Poucos sabem que o “terceiro sexo” não é apenas uma calúnia para excêntricos masculinos e femininos, mas que realmente existe há milhares de anos, sim, presumivelmente já existia na Terra antes dos outros dois sexos. Há estudiosos que querem provar que as primeiras pessoas eram dualistas (2), ou seja, homem e mulher unidos em uma única pessoa.

De acordo com a velha história bíblica da criação, Adão foi criado primeiro, e de seu corpo nasceu Eva. Daí em diante eles viraram “marido e mulher” e estavam literalmente unidos em um só corpo. É bem provável que os antigos cronistas bíblicos quisessem sugerir que pessoas pré-históricas com sexo duplo eventualmente se desenvolveram em pessoas separadas. Não há dúvida de que existiam pessoas na Terra muito antes de Adão e Eva. Como a bíblia fala apenas de uma parte da população da Terra, infelizmente perdemos a história do resto do povo e, portanto, só podemos provar a existência de outros tipos de seres a partir dos vestígios que ainda estão evidentes em nossos corpos de hoje. O fato é que atualmente tanto homens quanto mulheres, depois de tantos milhares de anos, carregam sinais claramente reconhecíveis do outro sexo. O mais marcante deles são os mamilos do homem, que têm o único propósito de amamentar crianças. Mas o corpo feminino também mostra um resquício do masculino em seus órgãos genitais, a saber, o clitóris, que nada mais é do que um pênis subdesenvolvido.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Exploração de gênero e curiosidade por meio de roupas

Sempre achei incrível o poder das roupas. Seja aquele casaco de couro que deixa a pessoa com uma atitude confiante. Ou aquele vestido lindo e brilhante que atrai toda atenção para quem o está trajando e a faz sentir a pessoa mais poderosa do local. Ou aquele terno feito sob medida que sutilmente mostra o quanto a pessoa pode pagar pela exclusividade. Ou até aquele look básico que falaram que não era para o seu gênero, mas que faz você se sentir bem consigo mesmo de uma maneira inexplicável.

Entendo que as roupas ajudam você a expressar quem é você mesmo, desta forma, ter plena liberdade de poder escolher o tecido ou corte de roupa que te agrade deveria ser muito mais importante do que essas limitações sociais que envolvem o formato do seu corpo, principalmente o seu aparelho genital. O texto a seguir fala sobre quando caiu a ficha da Grace Van Der Velden, uma mulher cis, a respeito dessas possibilidades que as roupas trazem. 

Traduzido de Grace Van Der Velden

O que colocar lingerie em um homem pela primeira vez me ensinou sobre mim mesma.

Recentemente, coloquei lingerie em um homem pela primeira vez. Era um body de renda cor creme coberto de babados nos ombros e um decote em V profundo que revelava perfeitamente seu peito peludo. Era a minha peça de roupa mais feminina, mas só me fez sentir do jeito que pensei que sentiria quando a vi nele.

Através da exploração pessoal, em privado, com um parceiro, encontrei um tipo de liberdade, alegria e êxtase que eu nem sabia que era possível.

Quando vi meu parceiro vestindo a minha lingerie... algo dentro de mim mudou, se soltou e um novo sentimento começou a surgir. Isso liberou uma onda de curiosidade e poder que eu nunca tinha experimentado antes, mas que estava fluindo e se acumulando em minha mente por um longo tempo.

No passado, eu me sentia impedida de explorar expressões de gênero e emoções por meio de minhas escolhas de estilo. O que coloquei no meu corpo sempre pareceu como uma performance com significado para todos, exceto para mim. Minha roupa era uma maneira de tentar agradar as outras pessoas, e me colocava em segundo plano.

Mas agora, quero que minhas roupas sejam um indicador físico de tudo que flui através de mim – meus pensamentos, emoções, masculinidade, feminilidade e curiosidade.

Estou aprendendo a seguir esses sentimentos – a lançar uma luz em cada canto e recanto da minha imaginação e criatividade, em vez de deixá-los serem encobertos pelas teias da expectativa da sociedade. Estou aprendendo a fazer uma pergunta e ver quais respostas eu encontro dentro de mim primeiro, ao invés de buscar validação externa. Eu quero buscar experiências de nicho, uma reação emocional, um momento de euforia corporal que eu nunca havia considerado antes – aqueles que estão presos no contexto das roupas e o que significa ser a pessoa dentro delas.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Mulheres trans e a ideologia da passabilidade

Passabilidade é quando uma pessoa tem que esconder que é trans para ser respeitada pelos outros, simples assim. Pra falar a verdade, achar que a identidade de gênero obrigatoriamente depende da aparência é uma violência ao direito que cada um tem sobre seu próprio corpo.

Traduzido de Takoda Leighton-Patterson

Quando me assumi como transgênero, a primeira coisa que fiz foi procurar grupos de apoio. Não é a coisa lógica a se fazer? Eu pensei assim até me encontrar em um grupo, me sentindo mais disfórica do que antes de me juntar a eles. Lutei com a sensação de que o objetivo dos grupos era que nos sentíssemos validados, seguros e vistos uns pelos outros. Minha expectativa do grupo estava longe da realidade e com isso fui obrigada a abordar o que eu estava sentindo e vendo no grupo. Em vez de ver mulheres solidárias e felizes, vi membros se olhando com desprezo, algumas dando-se mais valor do que outras com base em uma ideologia que imediatamente reconheci como perigosa. Essa ideologia é chamada de “passabilidade”.

Para entender por que a passabilidade é perigosa, você deve primeiro entender a própria palavra e o seu significado. Quando se trata de gênero, ser passável é uma forma de se integrar. Passar é ser percebido como alguém cisgênero ao invés de transgênero. Se passar por mulher trans significa simplesmente parecer uma “mulher de verdade”. Por que eu acho que isso é perigoso? Porque nos leva a perseguir um objetivo impossível. Qual é a aparência de uma mulher de verdade? Quem decidiu como é uma mulher de verdade? Se focar nisso, você encontrará a óbvia misoginia encarando você. Durante séculos, as mulheres foram submetidas às opiniões dos homens cis e julgadas por seus padrões. Somente mulheres com um determinado tipo de corpo, cor de pele, comprimento de cabelo, etc. eram e, de muitas formas, ainda são consideradas como "mulher ideal". Os padrões de beleza sempre tiveram falhas e, como resultado, muitas mulheres começaram a se odiar por isso. As mulheres trans não estão livres deste destino, na verdade muitas de nós sofrem da mesma forma porque nos ensinam e nos dizem que devemos sermos passáveis para sermos “reais”.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Por que azul para meninos e rosa para meninas?

Cada geração traz uma nova definição de masculinidade e feminilidade e isso acaba se manifestando nas roupas infantis. Esse negócio de azul para meninos e rosa para meninas é algo relativamente recente pois o costume surgiu apenas no meio do século passado, fora que no caminho ainda teve um empurrãozinho da indústria da moda para incentivar os pais a gastar mais dinheiro com as roupas dos filhos. 

Adaptado de Smithsonian Magazine

O pequeno Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente dos Estados Unidos, se apresenta na foto sentado recatadamente em um banquinho, com uma saia branca espalhada suavemente sobre o seu colo e com as mãos segurando um chapéu enfeitado com uma pena de marabu. Cabelo na altura dos ombros e sapatos de festa de couro envernizado completam o conjunto.

As pessoas costumam achar essa aparência meio inquietante hoje para um menino, porém a convenção social de 1884, quando Roosevelt foi fotografado aos 2 anos e meio, ditava que os meninos e as meninas deveriam usar vestidos até os 6 ou 7 anos de idade. Também era nessa idade que costumava ocorrer o primeiro corte de cabelo da criança. A roupa do Franklin era considerada neutra em termos de gênero.

Assim como os outros meninos da sua época, Franklin Roosevelt aparece trajando um vestido na foto.
Este retrato de estúdio provavelmente foi tirado em Nova York em 1884.

Hoje em dia as pessoas tem a necessidade de saber o sexo de um bebê ou de uma criança pequena logo à primeira vista, diz Jo B. Paoletti, historiadora da Universidade de Maryland e autora do livro Pink and Blue: Telling the Boys From the Girls in America (Rosa e azul: separando os meninos das meninas na América, 2012, sem versão em português). Assim, vemos, por exemplo, uma faixa rosa envolvendo a cabeça calva de uma menina.

Por que o estilo de roupa das crianças mudou tão drasticamente?
Como terminamos com duas “equipes”, meninos de azul e meninas de rosa?

“É, na verdade, a história do que aconteceu com as roupas neutras”, diz Paoletti, que explorou o significado das roupas infantis por 30 anos. Por séculos, diz ela, as crianças usaram vestidos brancos delicados até os 6 anos de idade. “O que antes era uma questão de praticidade – você veste seu bebê com vestidos e fraldas brancos; algodão branco pode ser branqueado – tornou-se uma questão de ‘Meu Deus, se eu vestir meu bebê da maneira errada ele vai se tornar um pervertido’ ”, diz Paoletti.

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Porque você não deve supor a identidade sexual das pessoas

Acho que eu já me acostumei com o fato de as pessoas automaticamente suporem que eu sou homossexual por conta da minha identidade de gênero, o que não é o caso. Já fui questionado por familiares, amigos, desconhecidos, até por uma crush sobre isso e cheguei a comentar a respeito disso quando escrevi sobre a minha visita numa balada hétero. No passado eu me incomodava com essa percepção, mas chegou um ponto que percebi que não tinha muito o que fazer e acabei deixando isso de lado.

O texto a seguir foi escrito por uma mulher que não tem a aparência mais feminina do mundo e que passa exatamente pela mesma situação. Acho que isso também tem relação direta com a questão da passabilidade, pois no fundo não existe homem/mulher padrão nem hétero/homo/bi padrão. Cada um tem o seu jeito. Cada um tem a sua aparência. Cada um tem a sua personalidade. E, o mais importante, cada um merece o devido respeito!

Traduzido de Alana Rister, Ph.D.

Não, eu não sou lésbica e o seu gaydar está errado!

Muitas pessoas me veem como lésbica. Desde como me visto até a maneira como falo, aparentemente eu envio um alerta ao gaydar das pessoas. Na verdade, apesar de eu estar em um relacionamento sério com um homem há mais de 5 anos, as pessoas me incentivam a sair do armário.

Eu até entendo por que as pessoas presumem que eu sou lésbica. No entanto, essas suposições me causaram sofrimento e angústia desnecessários. Matou minhas amizades, prejudicou meu relacionamento com a minha família e, por fim, tornou muito difícil a minha autoaceitação.

Provavelmente eu devo ser uma das poucas pessoas heterossexuais que passou por severos questionamentos sobre minha identidade sexual por causa da pressão social. Acredite em mim, eu sei que sou heterossexual.

Desta forma, quero compartilhar as 3 principais razões pelas quais as pessoas presumem que eu sou lésbica e porque a sociedade deve parar de fazer suposições sobre a identidade sexual e sobre a identidade de gênero dos outros.


Minha aparência
De longe, o maior motivo pelo qual as pessoas acham que sou gay é por causa da minha aparência. Minha aparência fica em algum lugar entre andrógina e masculina, dependendo do dia.

Eu tenho um corte de cabelo bagunçado, visto roupas de homem e nem mesmo encosto em maquiagens. Esse visual supostamente masculinizado costuma plantar a ideia de que eu devo ser lésbica.

Eu me identifico como agênero. Isso significa que não me vejo como homem ou como mulher e rejeito a noção de estereótipos de gênero. Embora minha jornada para encontrar minha identidade de gênero tenha sido complexa, isso me deu a liberdade de ser quem eu quero ser sem me sentir constrangida.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Dicas de como dar apoio ao seu filho transgênero ou não-binário

Quando eu era criança a questão do gênero era bem simples, a grosso modo se você tivesse um pênis você teria que aprender a se tornar um homem forte e provedor e se tivesse uma vagina você teria que aprender a ser uma mulher delicada e obediente. Assim todo mundo estaria pronto na vida adulta para começar uma nova família bonitinha, digna daquelas séries de TV com o homem ralando para pagar as contas enquanto a mulher cuidava da casa e dos filhos e dela mesma (bela, recatada e do lar que fala, né?). Tudo bem que não importava a sua vontade ou, mesmo, a sua personalidade, você simplesmente teria que se encaixar nessa ideologia de gênero.

No entanto, os anos se passaram. O salário do homem provedor médio sozinho já não suportava sustentar uma família direito e as mulheres tiveram que sair do lar para complementar a renda. Com isso, as mulheres foram notando que não precisavam ser obedientes para atender às vontades dos homens, até por que muitas delas foram obrigadas a "fazer a parte homem" por necessidade e sobreviveram. Já os homens parecem que estão acordando agora e notando que essa cultura também faz mal para eles (ah, e que eles também podem ser mais femininos).

Sendo assim, hoje eu sinto que as pessoas estão percebendo que não adianta forçar as crianças a se encaixarem nessas caixinhas binárias pois somos seres extremamente complexos e vivemos em sociedades mais heterogêneas do que antigamente. Então apresento aqui algumas dicas simples de convívio escritas pela Zada Kent, mãe de um garoto trans adolescente, para pais de filhos que não se encaixam perfeitamente na matriz binária e que poderão deixar a vida dessas crianças mais harmônica.

Traduzido de Zada Kent

Existem pelo menos três tipos de transição para indivíduos transgêneros – transição social, legal e médica. Cada uma delas irá influenciar diversos aspectos da vida de uma pessoa, mas todas as facetas detalhadas neste artigo exploram apenas a transição social.

(Se o seu filho já fez a transição social e está pronto para discutir a transição médica ou legal, acredito que o mais correto a se fazer é procurar profissionais que possam ajudá-lo a determinar o que é melhor para o seu filho. A jornada de cada indivíduo trans é única e pede a ajuda daqueles que são qualificados, esse é o melhor conselho que eu posso dar aos outros pais)

Independentemente da idade do seu filho, as dicas abaixo poderão fazer parte da transição social deles como um indivíduo transgênero ou não binário.

Roupas
Embora as roupas não tenham gênero, a maneira como nos vestimos pode representar como nos sentimos sobre nós mesmos e como desejamos nos expressar para os outros.

Quando meu filho se assumiu como transgênero, ele não queria mais usar as roupas femininas que predominavam o seu armário. Ele se apegou às roupas e aos sapatos masculinos, então tivemos que aprender a fazer compras no departamento masculino.

Seu filho transgênero ou não binário pode não querer usar muitas das roupas que ele vestia antes de perceber que não era cisgênero. (Cisgênero se refere à quando a identidade de gênero de uma pessoa corresponde ao seu sexo biológico).

Eles podem querer explorar o uso de itens fora do estilo de roupa que a sociedade atribui ao seu sexo biológico. Ou até mesmo eles podem se identificar como um garoto trans e ainda assim desejar usar vestidos.

É importante deixar seu filho escolher o que ele sente que melhor o representa e é mais confortável. Isso permitirá que eles saibam o quanto você os ama e os apoia, independentemente de como eles se identifiquem ou das roupas que estejam usando.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

7 frases poderosas que vão mudar a sua visão sobre gênero

Sendo alguém que foge do padrão binário de gênero eu acho muito interessante ver pessoas influentes abordando essa temática publicamente, isso nos ajudar a sentir que todos os seres humanos são igualmente importantes. A seleção de citações a seguir trás pessoas admiráveis falando sobre a importância da diversidade e da igualdade de gênero.

Adaptado de Zada Kent

1. “Tanto homens quanto mulheres devem se sentir livres para serem sensíveis. Tanto homens quanto mulheres devem se sentir livres para serem fortes. ” - Emma Watson

Sempre admirei a Emma Watson principalmente pela elegância dela, inclusive já escrevi esse artigo falando sobre o estilo dela, mas fico mais feliz em saber que ela não é apenas um rostinho bonito. Frequentemente ela expressa opiniões fortes sobre igualdade de gênero, tanto que foi convidada a ser embaixadora da Boa Vontade da ONU Mulheres.

A frase citada por ela deixa claro que é importante parar de insistir que pessoas sigam papéis de gênero desatualizados e de estilo colonial. Os seres humanos são indivíduos com necessidades, vontades, desejos, características e expressões individuais.

Ser masculino não é exclusividade dos homens. Ser feminino não é exclusividade das mulheres. Atualmente há muita pesquisa científica e dados que confrontam o binarismo de gênero. Está evidente que existe muito mais além da ideia arcaica de papéis para macho e para fêmea.

2. “Garotas não são máquinas nas quais você coloca
moedas de bondade até que saia sexo.” - Sylvia Plath 

A Sylvia Plath foi uma escritora americana que viveu entre 1932 e 1963 e era uma defensora apaixonada da igualdade de gênero. Nesse período, enquanto boa parte dos homens estavam se matando na guerra, as mulheres tiveram de assumir o controle da maioria das funções sociais que antes estavam exclusivamente nas mãos de homens. Deste modo, seus textos inspiraram diversas mulheres que participaram ativamente da revolução feminista da década de 60.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Eu não nasci no corpo errado, ao contrário da crença popular

Tenho certeza que eu já escrevi mais de uma vez aqui no blog que pessoas transgênero costumam ter a sensação de ter nascido no corpo errado. Eu li esse tipo de frase em diversos lugares e pra mim até que sempre fez sentido. Entretanto, esse artigo do Oak, um homem trans, me fez perceber que isso não é regra. Na real, o texto me deu uma perspectiva diferente a respeito da transição de gênero. Vamos lá, espero que vocês também apreciem a leitura!

Traduzido de theoaknotes

Transição é algo estranho. Eu pude compreender apenas nos últimos meses que transição de gênero tem significado diferente para cada indivíduo.

Existem quatro tipos diferentes de transições relacionadas a gênero que eu posso nomear com segurança: transições sociais que podem envolver mudança de nome ou de pronome, transições físicas que podem envolver alterações na sua aparência/estilo, transições médicas que podem envolver cirurgias ou terapia hormonal e transições de identidade que podem envolver uma transformação na maneira como a própria pessoa se vê.

Provavelmente estou esquecendo de pelo menos mais uma forma de transição. Tudo isso vem das transições que testemunhei pessoalmente ou que experimentei em primeira mão além dos livros que li (como Sorted da Jackson Bird, Whipping Girl da Julia Serano e Nonbinary: Memoirs of Gender and Identity da Micah Rajunov e A . Scott Duane, para começar).

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Apresentando os Femboys, uma tendência positiva no TikTok

Me deparei nesta semana com esse artigo da revista Vice e acho que tenho uma boa notícia para vocês: o crossdressing está saindo da obscuridade e virando moda! Vou traduzir o artigo completo na sequencia, mas em resumo a nova geração está com a cabeça mais aberta no que se refere a feminilidade em homens. A propósito, a tradução literal de "femboys" é algo como "garotos femininos".

Talvez demore um pouco para a moda atingir o Brasil, que dizer, considerando que temos personalidades como o Pabllo Vittar sempre bombando nas mídias pode ser que nem tanto. Enfim, tenho certeza que a medida que isso for mais presente no nosso cotidiano menos estranho será para todos nós, falo principalmente para milhares (ou milhões?) de crossdressers e transgêneros que ainda não se sentem a vontade para sair do armário e externalizar um lado verdadeiro de si mesmo.

Aproveite para ler o artigo Femboys: o Movimento Que Vai das Semanas de Moda ao TikTok da FFW Fashion Forward, ele também trás informações interessantes e relaciona o movimento com o que se vê nas passarelas atualmente.

Screenshots de femboys no TikTok

Traduzido de Vice Media

Garotos adolescentes – tanto queers quanto heterossexuais – estão rodando em vestidos e saias bonitas sob hashtags virais como #femboyfriday no TikTok.

Pessoal, é gay redefinir a masculinidade? Os “femboys” da Geração Z no TikTok argumentam que definitivamente não é – e eles estão argumentando com lindas saias esportivas, blusinhas e vestidos de veludo.

"Femboys" – não confundir com o primo cibernético um pouco mais dark os "e-boys" – são pessoas que se identificam como masculinas ou não binárias, mas se apresentam de formas mais tradicionalmente feminina, como por meio de sua aparência, personalidade ou disposição geral e o visual é mais inspirado na cultura skatista, moda dos anos 1990, anime, hip-hop, gótico e rave.

Dê uma olhada na hashtag #femboy e você encontrará centenas de rapazes usando esmalte nas unhas, girando em saias, blusinhas e vestidos, e geralmente sendo realmente saudáveis. Garotos nada ameaçadores.

Embora o termo femboy esteja circulando no ciberespaço há algumas décadas – principalmente encontrado em fóruns do Reddit – ele foi recentemente adaptado por jovens no TikTok que queriam redefinir o que significa ser um homem no mundo de hoje.

O Seth, femboy de 17 anos, se tornou viral no TikTok de um dia para o outro após postar um vídeo dele usando uma saia esportiva e esmalte nas unhas, com a hashtag #femboyfriday. O vídeo agora tem mais de um milhão de visualizações e, sem dúvida, abriu o caminho para que outros meninos não conformes façam o mesmo. “Eu não sabia que havia toneladas de outros meninos como eu, então o termo [femboy] me deu uma comunidade,” Seth disse à VICE.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Normas de gênero e porquê eu não quero ser passável

Já escrevi dois artigos relacionados a passabilidade ("Passabilidade" e "Transgêneros e a necessidade de modificações corporais") e acho que deixei claro que é um termo que não me agrada. Mas eu vivo como homem a maior parte do tempo e pessoalmente não faço questão de realizar uma transição ou algo do gênero. Talvez esse assunto nem seja do meu lugar de fala. Entretanto, ao ler esse texto de uma mulher trans falando sobre os limites da passabilidade para ela eu percebi que vai exatamente de encontro com o que eu penso. Então espero que a reflexão seja de bom proveito para você também.

Traduzido de Rachel Brindell

Para muitas pessoas transgênero ser passável é alcançar o maior objetivo. Há muitas razões para isto. Às vezes pode ser uma questão de segurança, ou para que a pessoa trans se sinta confortável na sua própria pele, ou por uma série de razões e todas elas são válidas.

Para aqueles que não sabem o que é ser passável, é a capacidade de ser visto como uma mulher cisgênero se você for uma mulher trans, ou um homem cisgênero se você for um homem trans.

No entanto, cheguei a um ponto em minha transição em que a aprovação dos outros não é necessária, nem desejada. Eu moro em um estado liberal dos EUA, Nova York, que tem suas próprias leis de proteção de gênero, e a violência contra pessoas trans parece ser mínima. Além disso, sinto que agora posso viver de forma autêntica e sem remorso como eu sempre fui.

Lembro de quando me assumi pela primeira vez há alguns anos e passei pelo processo tedioso e cheio de ansiedade de me assumir para meus entes queridos e amigos. Vários deles me perguntaram o quão longe eu pretendia ir com a minha transição e, francamente, naquele momento eu não sabia. Minha resposta foi “até me sentir confortável em minha própria pele”.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

4 Confissões de gênero que pessoas confiaram a uma garota trans

O texto a seguir é uma tradução do artigo da Phoenix Huber, uma mulher trans americana. Ela compartilhou 4 experiências de gênero que pessoas próximas confessaram para ela. Gostei muito da leitura pois eu mesmo já ouvi diversas histórias similares. Boa parte delas foi graças aos contatos recebidos aqui no blog, mas as que mais me surpreenderam foram de pessoas próximas de mim que enxergaram na Samantha um espaço seguro e confiável para abrir suas experiências pessoais.

Alguns casos renderiam até novelas, mas posso citar que soube de gente que teve experiência homossexual, de gente inconformada com tratamento diferenciado para crianças de cada gênero enquanto crescia, gente que teve que adaptar o jeito natural de ser para se misturar em grupos e até de gente que carrega uma ferida na alma por nunca poder expressar a si mesmo como se sente. Enfim, cada caso serve para abrir um pouco os nossos olhos para a realidade que vivemos.

Traduzido de Phoenix Huber

Ser você mesmo é um ímã para as histórias das pessoas

Quer saber uma das coisas mais legais em ser você mesmo? Sua abertura pode convidar outras pessoas a confiarem a você as suas histórias.

Sentimentos transgêneros me acompanharam desde muito cedo. Ao sair do armário, li autobiografias como Redefining Realness de Janet Mock (sem versão em português). Isso não me tornou uma PhD em lutas de identidade de gênero! Eu ainda tinha muito para aprender.

No entanto, já que eu era visivelmente trans e também uma boa ouvinte, estava aberta a receber uma educação informal. Amigos, familiares e estranhos na web me honraram com suas confissões relacionadas à gênero.

Aprendi o quão diversas são nossas experiências de gênero.

As coisas pararam de parecer chocantes. Ainda assim, ter a confiança das pessoas foi uma experiência humilde. Não há nada como relatos em primeira mão. Ser trans me deu uma visão panorâmica das experiências de gênero das pessoas, muito além do que os blogs anônimos poderiam me ensinar.

Aqui estão 4 casos que as pessoas me contaram. (Alguns detalhes foram alterados por privacidade.)


1. Eu teria feito a transição

“Eu teria feito a transição”, disse ela, “se o mundo fosse diferente naquela época. Antes de eu me tornar definido em minha identidade como Michael. ”

Naquele momento, minha visão de Michael mudou para sempre.

2013 foi quando me declarei transgênero. Celebridades trans estavam em alta. Eu era uma estudante no programa de teatro da ASU, onde eles nos receberam para sermos loucos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

História de uma Crossdresser - Juliette Noir

Traduzido de Juliette Noir por Antonela Ross

Muitas de nós quando nos deparamos com essa vontade de adentrar no universo feminino ficamos abismadas pensando que essa loucura só acontece com a gente. No entanto, a medida que vamos conhecendo outras pessoas e outras histórias percebemos que não estamos sozinhas. Nem um pouco para falar a verdade. Tanto que eu já ouvi histórias semelhantes de inúmeras pessoas dos quatro cantos do mundo e ainda fico abismada com o quanto somos parecidas.

O texto a seguir é da Juliette Noir, uma crossdresser britânica, que foi traduzido por uma amiga minha (Antonela Ross) e que descreve muito bem algumas nuances do universo de um crossdresser (aliás, me enxerguei em vários trechos). Vale a pena a leitura assim como vale dar uma conferida no blog dela. Espero que vocês gostem!!


Minha História Noir
Minha História Noir, um voo sombrio para o mundo perigoso de uma mulher que não existe. Juliette Noir, uma jovem solitária em uma cruzada para defender a causa dos inocentes, dos indefesos, dos impotentes, em um mundo de criminosos que operam acima da lei.

Meu nome é Juliette Noir, ou melhor, não é, mas é assim que vocês podem me chamar. Eu sou um cara bastante típico a maior parte do tempo, eu tenho uma família, um bom trabalho, eu gosto de filmes, eu corro e pedalo para manter a forma e tenho alguns hobbies interessantes.

Como muitos homens que investiram muito em suas atividades, optei por dedicar todo esse site a um desses hobbies. No entanto, é importante para mim que você perceba que o que você está vendo sou eu, apenas uma aparência externa minha, que representa tão somente cerca de 5% da minha atividade diária.

Então, vamos falar sobre começos, desafios, triunfos e fracassos.

Infância
Eu realmente não poderia dizer quando soube que sou um/a crossdresser, eu tenho estado nisso de uma forma ou de outra por mais de 30 anos e de muitas maneiras eu ainda estou encontrando meus pés e minha voz.

O que eu sei é que eu nunca me entrosei com muitos de meus colegas e tenho tendência a me manter fora da maioria dos grupos.

As primeiras memórias giram em torno de um fascínio por vestidos, saias, roupas íntimas femininas etc. No entanto, eu realmente não tinha consciência do que estava fazendo ou sentindo. Eu senti o que agora sei que é um sentimento típico de vergonha e confusão sobre essas inclinações e como muitas pessoas na minha situação, eu escondi profundamente isso da melhor maneira que pude.

Às vezes, no entanto, adotamos medidas que afetam mais permanentemente nossas vidas. O crescimento de pelos no corpo de adolescente não foi um alívio para mim, mas um aborrecimento. Aos 16 anos, depilei minhas pernas pela primeira vez e depois passei muitas semanas tentando evitar a ginástica e qualquer coisa que pudesse revelá-lo.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Transgênero, crossdresser, travesti, drag queen, qual é a diferença?

Cada pessoa é um ser único, mas que tem características comuns a toda a humanidade. Nos identificamos com alguns e nos diferenciamos de outros por construções sociais, por exemplo: a região em que nascemos ou que crescemos, classe social, se temos ou não uma religião, idade, nossas habilidades físicas, entre outras que marcam a diversidade humana.

De fato existe uma similaridade entre as pessoas que utilizam esses termos do título do post, mas para tentar compreender as peculiaridades de cada caso eu vou utilizar o gráfico de Identidade de gênero, Expressão de gênero, Sexo biológico e Orientação sexual que eu apresentei no post Identidade de gênero e Orientação sexual - O que é você?.
Para lembrar, segue um resuminho:
- Identidade de gênero: o modo como o indivíduo se sente/se identifica;
- Expressão de gênero: o modo como a pessoa se expressa/se apresenta;
- Sexo biológico: a nossa marca genética, o XX ou XY do DNA (ou outros);
- Orientação sexual: por quem a pessoa sente atração afetiva/sexual.

Segue alguns exemplos, vale salientar que nada disso é regra. Aliás, vou focar principalmente em pessoas que nasceram com o sexo biológico XY porque é o meu caso e tenho mais proximidade, mas vale o mesmo para o sexo biológico XX.

Homem Cisgênero
Identidade de gênero: masculina
Expressão de gênero: masculina
Sexo biológico: XY - macho
Orientação sexual: Indiferente
Pessoas cisgênero são a maioria na nossa sociedade, são as que tem alinhado a identidade de gênero e expressão de gênero com o seu sexo biológico.

A orientação sexual é indiferente. Pode ser que um homem cis homossexual tenha uma expressão de gênero puxada para o feminino, mas pode ser que a sua expressão seja super masculinizada. Também pode ter um homem cis heterossexual que tenha uma expressão um pouco feminina, então nada é regra.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Na dúvida da transição: o que é ser mulher?

Feliz ano novo, meninas! (sim, um pouco atrasado, mas estou por aqui)
Quero começar esse ano com um texto especial, espero que gostem ♥

Muitas pessoas me questionam à respeito de uma possível transição ou esperam que eu passe a viver exclusivamente como mulher. Sei que isso é a vontade de muitas dessas pessoas e entendo um pouco o sentimento, no entanto tem uma questão que me deixa com dúvidas: o que exatamente é ser mulher? Como faz para se tornar uma mulher? Ou, o que é ser mulher hoje em dia e na nossa sociedade?

Os seios não fazem de você uma mulher, nem um útero ou mesmo uma vagina. Pergunte a qualquer mulher em qualquer lugar o que faz dela uma mulher e provavelmente ela não se limitará apenas à anatomia, ao invés disso ela poderá indicar o seu coração, sua alma, o amor de mãe, a sua devoção, a sua a força, enfim, parece um sentimento único.

Ser mulher num contexto social já foi sinônimo de ser um objeto bonito e delicado, quase uma peça de decoração, que podia ser entregue pelo pai junto com um dote (pra compensar o transtorno) para um noivo e que serviria para gerar a prole desse homem além de ser vitrine do sucesso dele. Essa realidade não está muito distante da nossa, há algumas décadas atrás era o padrão da nossa sociedade e em alguns locais mais conservadores isso ainda é a realidade de mulheres em pleno século XXI.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Dualidade do Crossdressing e a Liberdade de Expressão


Não é novidade dizer que para mim o crossdressing é um estilo de vida, né?

A comparação acima ilustra bem o que eu quero dizer. Na foto da esquerda eu estava saindo de casa num domingo para passar no Mercado Municipal da minha cidade enquanto a da direita foi antes de um passeio no shopping.

De um lado tem o conjunto básico do conforto: calça jeans, camiseta e tênis. O jeans verde foge do padrão e a estampa da camiseta é uma das minhas paixões! A jaqueta de couro, além de me proteger do frio Curitibano, é o meu elemento de estilo do look. No pé um tênis da Converse confortável para caminhar.

No dia a dia esse é o meu "uniforme" de Victor. Considerando que eu vou para o trabalho a pé e caminho cerca de 6km por dia, tenho que pensar no meu conforto e na minha segurança pois não dá pra ficar ostentando muito enquanto se anda pelo centro da cidade. Fora isso tem o fato de eu trabalhar em um órgão público de engenharia, um ambiente nada glamouroso para o padrão da Samy. Então esse é o meu look de rapaz prático e trabalhador (rsrs).

Do outro lado entra o estilo e a ousadia da Samantha. Quer dizer, fui pouco ousada nesse look e tentei fugir do visual Femme Fatale que muitas crossdressers adotam. De certa forma também montei um look de calça jeans e camiseta, só que a calça é super skinny e a camiseta é uma blusinha cropped. Nos pés tem que constar um salto alto pois além de ser um acessório lindo ele realça as curvas das pernas e me ajuda a ter uma postura mais elegante.

Falando nisso, percebem a diferença que faz a postura? Nas fotos estou praticamente na mesma posição, mudando um detalhe ou outro, só que em uma foto acentuam-se as linhas retas enquanto na segunda são as curvas que chamam a atenção. Já escrevi a respeito de linguagem corporal nesse e nesse post, vale a pena conferir!

Isso me fez refletir sobre algo muito importante: Crossdressing é Liberdade de Expressão! Se trata de um direito fundamental que garante a manifestação de opiniões, ideias e pensamentos sem retaliação ou censura por parte de governos, órgãos privados ou públicos, ou outros indivíduos. A roupa que eu uso é uma forma pura de expressão que reflete o meu ser, se estou na onda do vestido ou do terno é decisão minha e não preciso da aceitação de ninguém, apenas o respeito.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Transgêneros e a necessidade de modificações corporais

Esse é um tema bastante explorado pela população trans/cross e, assim como existem diversos caminhos para realizar essa modificações, também existem riscos para se obter o corpo desejado. Antes de abordar as modificações em si eu gostaria de falar sobre a necessidade de mudar o corpo.
Em primeiro lugar, se eu tenho disforia de gênero, adaptar o meu corpo a esse gênero é algo obrigatório??
A minha resposta é não.

Entendo que existem dois grandes motivadores para modificação do corpo, um deles, que eu considero o mais importante, é o pessoal e tem relação principalmente com a autoestima enquanto o outro seria relacionado aos fatores externos e no nosso universo eu posso resumir numa palavrinha: passabilidade.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Guevedoces, transexuais biológicos ou crianças andróginas?

Quando pesquisei sobre a história dos transgêneros nas tribos norte-americanas achei muito interessante o fato de algumas culturas tratar as crianças apenas como criança, sem diferenciar as atividades em função do sexo biológico delas e as ensinando desde corte e costura até a caça, assim no ritual de passagem para a vida adulta cada indivíduo estaria apto a decidir por conta própria qual caminho deve seguir.

Recentemente eu tive conhecimento de uma variação genética que faz com que pessoas do sexo masculino desenvolvam o seu aparelho reprodutor somente na puberdade, junto com as características sexuais secundárias, dificultando a percepção do sexo biológico e transformando as crianças em indivíduos andróginos. Essas crianças ficaram conhecidas como guevedoces e foram objeto de estudo na década de 1970.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Homem que curte crossdresser é gay?

Tenho visto esse tipo de questionamento brotando pela internet e fiquei inquieta! E aí, homem que sai com crossdresser (ou travesti, transgênero, transexual, queer... enfim) é considerado heterossexual ou homossexual??
Já encontrei vários homens por aí dizendo que se ela for passável como uma mulher ele não pode ser considerado homossexual, mas será isso mesmo??

Vamos lá, o conceito de orientação sexual, que cada dia que passa eu sinto que não serve para nada, classifica as pessoas com base nos gêneros que elas se sentem atraída, seja física, romântica e/ou emocionalmente. Elas podem ser classificadas como: assexual (nenhum ou raros momentos de atração sexual), bissexual (atração por mais de um gênero), heterossexual (atração pelo gênero oposto), homossexual (atração pelo mesmo gênero) ou pansexual (atração por qualquer gênero).

Essa definição eu retirei da Wikipédia e podemos observar que ela depende exclusivamente do gênero das pessoas envolvidas, aí que entra o grande problema dessa questão.