Fig. 1 O Jovem Cristo |
Traduzido de The Ontological Machine
Durante o ano passado, olhei para esta imagem inúmeras vezes. A primeira vez que a vi eu estava em uma palestra tediosa, daquelas que o palestrante fica passando slides de PowerPoint – apresentações depois do almoço nunca foram a minha praia. Se sabe, quando alguém não sabe direito sobre um determinado tópico de arte, tudo começa a se fundir na mesma coisa (depois de uma certa quantidade de querubins e mulheres nuas, eles parecem todos iguais). Mas quando você aprende a olhar, tudo começa a fazer sentido. De repente, as curvas daquelas mulheres nuas dizem algo sobre o pintor, e o uso de um determinado pincel nos querubins ajuda a distinguir o período. Depois disso, qualquer apresentação de slides se torna mais divertida e leve, como uma versão artística de Onde está Wally. Você deve supor que eu gasto meu tempo de maneiras muito estranhas, e você está certo.
E eu devia estar no limite do conhecimento, porque enquanto o palestrante passava rapidamente pelas imagens, uma delas imediatamente me tirou o sono. Essa figura de olhos amendoados e cabelos cacheados perfeitamente articulados parecia estar olhando para um interlocutor invisível como se estivesse no meio de uma conversa. Algo sobre esta imagem estava me deslumbrando. Talvez fosse o uso da luz, ou talvez sua proximidade, como se eu vivesse uma intimidade da qual não pudesse escapar. Isso me fez sentir algo que nunca pensei ser possível enquanto assistia à arte renascentista: me deixou desconfortável.
Não demorou muito até eu perceber que a imagem não era de uma mulher núbil olhando para longe com modéstia. O retrato era de um menino. E aquele menino era Jesus Cristo. Apenas um GIF poderia transmitir minha surpresa naquele momento, e eu tive um milhão de perguntas imediatamente. Por que essa imagem é tão perturbadora para mim? Por que ele parece uma mulher? Quem pintou isso? Eles queriam que ele parecesse com uma mulher? Onde a pintura seria apresentada?