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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Transição para uma mulher heterossexual

Traduzido de Amanda Roman

Eu sempre gostei de meninas, então presumi que seria uma mulher lésbica após minha transição de gênero. Eu estava errada.

No ensino médio, quando eu era um garoto que não conseguia entender por que me sentia tão compelido a me vestir e agir secretamente como mulher, comecei a me questionar se eu era gay. Sempre me senti atraído por garotas e até tive uma namorada em determinado momento, mas nenhuma outra explicação realmente fazia sentido. Então um dia decidi fazer uma experiência. Olhei para o garoto mais próximo de mim, que por acaso era um colega de trabalho cujo nome eu esqueci, e tentei imaginar como seria beijá-lo.

O experimento terminou antes mesmo de começar. No momento em que meus lábios mentalmente tocaram os dele, senti uma onda imediata de repulsa. Eu involuntariamente me encolhi. Houve uma sensação de pânico e depois um recuou. Uau, pensei. Definitivamente não sou gay. Graças a Deus.

Olhando para trás, me pergunto se repulsa foi realmente o que senti. Pode ter sido medo. Pode ter sido a mesma sensação calorosa e formigante que sinto quando me imagino beijando caras agora, que meu eu católico adolescente não entendia e estava com muito medo de reconhecer. Realmente não me lembro de nada além da reação visceral que isso me causou. O que quer que eu tenha sentido naquele momento, não foi apenas desinteresse passivo; foi uma rejeição ativa.

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

7 coisas que aprendi após a cirurgia de confirmação de gênero

Traduzido de Rejserin

Muitas pessoas perguntam como é a cirurgia de confirmação de gênero e qual é o impacto em sua vida depois de anos. Fiz minha cirurgia na Tailândia em 2008, em um ponto interessante da história mundial onde ser trans era ser uma parte mais ou menos aceita do mundo, mas também quando ser trans era um mistério para a grande maioria das pessoas. Aqui, quero compartilhar sete coisas que aprendi sobre mim e sobre o pós-operatório que vivi nos últimos quinze anos.


1) Minha recuperação foi estupidamente fácil

Comparado com muitas pessoas, acho que a minha recuperação pessoal foi mais fácil do que parece. Fui aconselhado antes da cirurgia a manter a minha rotina de exercícios, reduzir o consumo de álcool e perder peso. Além disso, disseram-me para comer tudo o que me dessem no hospital, independentemente de eu gostar ou não do sabor. Embora você não possa comer alimentos sólidos, as enfermeiras tailandesas me forneceram bastante sopa, o que ajudou a me manter hidratado e nutrido durante os quatro dias sem alimentos sólidos. Quando chegou a hora de deixar o hospital, saí sem qualquer ajuda e, quando voltei para casa, três semanas depois, consegui praticamente seguir com a vida normal.

Minha ressalva ao compartilhar isso é que nem todos têm o mesmo processo de recuperação e cada corpo é único. Meu maior conselho é entrar em forma o máximo possível antes da operação e se manter nutrido durante a internação. Essas coisas não são fáceis, mas, na minha opinião, ajudaram muito na minha recuperação.


2) Sexo e intimidade são intensos e lindos no meu corpo pós-operatório

É difícil descrever o efeito que o estrogênio teve em meu corpo quando se trata de tocar, ser tocada e sensibilidade geral. Fiz muito sexo antes da cirurgia, e uma das maiores diferenças foi que no pós-operatório me senti completamente à vontade com meu corpo, sem a preocupação de que meu parceiro me achasse estranha. Eu gosto do frisson que veio com esse meu corpo e, embora tenha demorado alguns meses para me acostumar, rapidamente se normalizou. Raramente faço sexo com penetração com homens, mas quando o faço parece certo, sem inibições ou desconexão neural. Sexo com corpos femininos está em outro nível e tem uma quintessência própria.

quarta-feira, 15 de março de 2023

Como fica a identidade de gênero e sexual nos crossdressers?

Traduzido de En Femme Style

"Você é gay?"

Geralmente é a primeira pergunta que escutamos quando saímos do armário para alguém. Quero dizer, em retrospecto até faz sentido, mas na primeira vez que me perguntaram, fiquei surpreso. Qual é a conexão entre usar calcinha, vestidos e tudo mais e se sentir atraída por um homem? O que usar lingerie tem a ver com quem eu pretendo namorar? Alguém me disse uma vez que identidade de gênero é sobre o que você quer VESTIR para dormir, enquanto identidade sexual é sobre COM QUEM você quer estar na cama. Acho que isso resume bem a questão.

Mas acho que faz sentido que seja uma das primeiras coisas que nos perguntam, considerando como os crossdressers são normalmente retratados no cinema e na televisão. Quando eu era criança, qualquer personagem gay em um filme era abertamente extravagante e feminino. Drag queens geralmente são homens gays. As drag queens agem de forma feminina e parte dessa feminilidade é expressa através de como elas interagem e flertam com os homens. Por causa disso, quando alguém ouve falar de um cara que usa roupas femininas, não é de surpreender que eles se perguntem se ele é gay ou não. Não que haja algo de errado com isso, não me entenda mal.

Poucos de nós sentimos que quem somos e o que fazemos tem relação com o universo das drags. Muitas drag queens são absolutamente lindas e talentosas, e a atuação (em seus muitos aspectos) é algo relevante na vida de muitas drag queens. Quando estou en femme, não estou atuando. Eu não estou interpretando um personagem. Eu sou quem eu sou. Sou realmente quem eu sou quando a maioria das pessoas que conheço não está olhando.

Filmes e televisão mudaram (em grande parte) a maneira de retratar homens gays. Mas a internet não está nos fazendo nenhum favor. Quando me assumi para minha namorada (agora esposa), ela queria aprender e possivelmente entender pessoas como nós, então ela recorreu ao Google. Claro que ela foi inundada com muitas imagens de homens vestindo lingerie. Diversas dessas fotos eram puramente sexuais, mostrando um crossdresser tendo relações com um homem. Essas imagens alimentaram os medos dela. Não que ela seja homofóbica, de jeito nenhum. Mas ela estava preocupada que o homem por quem ela estava apaixonada fosse secretamente gay ou reprimisse sua sexualidade ou mesmo negasse.

quarta-feira, 8 de março de 2023

Como funciona o sexo depois que você começa a se travestir?

HQ Boneca da Raan

Traduzido de En Femme Style

Tudo isso vai além de um apenas um par de meias 7/8, um bom sutiã push-up e um salto alto do seu tamanho grande, tanto para você quanto para a sua parceira. Com isso, vamos para o lado pessoal. Quer o crossdressing seja uma inclinação sexual ou caso você esteja partindo para uma transição de genero, isso afetará diretamente a sua sexualidade e sua vida sexual com a sua parceira. Uma discussão honesta do âmago da questão é algo que não acontece com frequência suficiente. Estou escrevendo supondo que você deseja manter seu relacionamento ativo e que vocês dois estejam comprometidos um com o outro. Apesar de eu estar usando pronomes femininos para a parceira aqui, acho que a maior parte das dicas se aplica independentemente de gênero.

Se o crossdressing se resumo a sexo para você, pelo menos por enquanto, vestir-se para brincar no quarto pode não ser uma tarefa tão difícil. Fale abertamente sobre isso e defina limites para ambos os lados, assim como se deveria fazer para qualquer outra fantasia sexual. Este é um bom momento para falar sobre o que cada um de vocês precisa e deseja dessa experiência e sobre seus medos e desconfortos. Dê pequenos passos e comece devagar. Trate isso como se fosse uma encenação, tornando-o algo divertido. Compartilhem alguma literatura erótica, marquem uma visita a um sexshop ou assistam a um vídeo com o tema apropriado, isso pode ajudar a fornecer a vocês dois um pouco de inspiração, se vocês estiverem se debatendo.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Vivendo na pele de um Homem - Norah Vincent vs. Binarismo de Gênero

Traduzido de James Kirchick

O problema de gênero de Norah Vincent

As lições da falecida escritora sobre como quebrar o binarismo de gênero

Quando a escritora Norah Vincent decidiu viver como um homem para fins de um experimento jornalístico, ela esperava que sua vida fosse ficar mais fácil. Afinal, os homens desfrutam de muitos tipos de vantagens estruturais na sociedade americana, vantagens que Vincent explorou em seu livro "Feito Homem: A jornada de uma mulher no mundo dos homens" (2006). Da mesma forma que outra grande jornalista imersiva, Barbara Ehrenreich, relatou sobre os trabalhadores pobres trabalhando em uma série de empregos de salário mínimo no livro "Miséria à Americana" (2004), Vincent empreendeu uma investigação sobre como vivia uma versão mais literal da “outra metade”.

Com a ajuda de um novo guarda-roupa, um corte de cabelo mais curto, uma camada de barba artificial, um sutiã esportivo extremamente apertado e um treinador de voz da Juilliard School, Vincent viveu como “Ned” por 18 meses. Ao longo de sua experiência, Vincent passou com sucesso em vários ambientes masculinos, de uma liga de boliche a um clube de strip-tease e a uma poderosa empresa de vendas ao estilo O Sucesso a Qualquer Preço (1992), ganhando a confiança de seus muitos interlocutores masculinos ao longo do caminho. Para sua surpresa, o que ela descobriu a tornou mais solidária com a situação dos homens, que, ela escreveu, sofreram tanto ou mais com as expectativas de gênero da sociedade do que as mulheres.

O principal aprendizado de Vincent de seu tempo vivendo como Ned foi uma apreciação mais profunda da “toxicidade dos papéis de gênero” que “provou ser desajeitado, sufocante, indutor de torpor ou até quase fatal para muito mais pessoas do que eu pensava, e pela simples razão de que, homem ou mulher, não deixaram você ser você mesmo.” Para os membros masculinos de nossa espécie, essa toxicidade decorre da ansiedade de serem percebidos como femininos, “o resultado de homens trabalhando ativamente para reprimir quaisquer tendências femininas rasteiras em si mesmos e em seus irmãos”. No final das contas, “não era por ser descoberta como mulher que eu estava realmente preocupada. Ned estaria sendo descoberto como menos do que um homem de verdade” – isto é, um homem que não se conforma às normas estereotipadas de gênero masculino. A língua portuguesa tem muitas palavras para esse tipo de homem – viado, maricas, mulherzinha, bicha, todas denotam principalmente aquela classe de ser humano que estava, até bem recentemente, entre as minorias mais desprezadas: os homossexuais.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

O homem bissexual que só quer namorar com mulher

O texto a seguir fala um pouco da dificuldade que alguns homens bissexuais encontram ao se relacionar. As vezes eles precisam cancelar a suas identidades para buscar viver um relacionamento sério com uma mulher ou acabam levando uma vida dupla por medo da rejeição.

Isso conecta diretamente ao mundo crossdresser e em vários os sentidos. Primeiro que a dificuldade descrita é praticamente a mesma vivenciada no mundo cross. Fora isso, também conheci diversos casos em que a bissexualidade entra no mesmo contexto. Desta forma achei bem válido trazer esse texto para a reflexão de vocês!

Fonte Voz da Diversidade

Há um grande número de homens bissexuais que interage no BlogSouBi (atual Voz da Diversidade) com uma “teoria” bem clara: gostamos de nos relacionar sexualmente com homens, mas só sentimos vontade de ter relações amorosas com mulheres.

Não, eles não são homossexuais enrustidos, é o que afirmam categoricamente. “Geralmente os textos que tratam da bissexualidade masculina acabam caindo numa abordagem que tem mais a ver com o processo de aceitação da homossexualidade e não com a tentativa de lidar com os dois desejos ao mesmo tempo, que é muito mais complexo”, contou Flavio ao BlogSouBi.

Segundo ele, seria muito mais fácil ter atração apenas por homens. “Mas o meu desejo por mulheres fala muito alto, de forma que eu jamais conseguiria assumir o desejo por homens em detrimento da possibilidade de seguir me relacionando também com elas”. 

Por conta do machismo das mulheres, homens como Flávio não assumem a bissexualidade. Serão muito provavelmente tachados de homossexuais enrustidos e, consequentemente, perderão o posto de “machos”. “É o grande dilema dos homens bissexuais. Nós até que gostaríamos de viver nosso lado homossexual às claras, mas viver abertamente esse lado, na sociedade em que vivemos, anulariam 90% das possibilidades de continuarmos a ser vistos como machos pelas mulheres com as quais gostaríamos de nos relacionar”, disse. 

Flávio e tantos outros bissexuais começam a trazer à tona desejos muito pouco debatidos na área da sexualidade. Os homens não falam com outros homens sobre o assunto por motivos óbvios. E também não conversam com as mulheres por motivos ainda mais óbvios. Em ambos os grupos serão discriminados e (talvez) ridicularizados. Os homens que fariam chacotas poderiam até sentir o mesmo, mas nunca admitiriam (alguns nem para si mesmos). 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Desassociação entre identidade e fetiche

Traduzido de Claudia Tyler-Mae

Um dos problemas de compreensão no submundo da libertinagem sexual é a associação de sexualidade com identidade. Para alguns, a imagem dela define a pessoa. Para outros, essas são duas coisas totalmente distintas.

Essa é a diferença entre slut shaming e slut walks (slut shaming é quando pessoas são julgadas de maneiras pejorativas por se comportarem/vestirem fora de um modelo considerado tradicional, enquanto no slut walks, conhecido no Brasil como Marcha das Vadias, as mulheres protestam contra a crença de que as vítimas de estupro provocam a violência por conta de seu comportamento ou pela sua roupa). Também podemos visualizar isso claramente no BDSM, onde alguns bottoms podem sair de uma sessão de humilhação com a cabeça erguida, enquanto outros correm por quilômetros para se esconder de todos. No discurso público, analogamente se questiona se as pessoas podem jogar videogames violentos sem serem necessariamente violentas.

Parece-me que isso está ligado à incapacidade das pessoas de desassociar a imagem (ou a palavra, ou mesmo o ato) da identidade de alguém. Uns ficam felizes em adotar publicamente uma imagem excêntrica ou explorar um papel de gênero ou papel social diferente do deles e não sentem que isso defina quem eles são, apenas como uma exploração momentânea. Já aqueles que associam um ao outro, porém, sentem a ligação como uma constante atrelada a sua identidade (exemplo: "se eu experimentei sexo anal, isso quer dizer que virei gay?").

Isso causa problemas quando um determinado grupo adota estilos e comportamentos que outro grupo relaciona com uma sexualidade específica, ou vê como algo misógino ou humilhante. Não que isso seja um argumento para dizer que um lado é mais “liberal” do que o outro. Alguns pervertidos felizes e confiantes também podem ser "literalistas", que fazem a associação direta de que se você quer agir como uma vagabunda, então você deve simplesmente seguir em frente e sempre se apresentar como uma vagabunda. A capacidade de desassociar ou não define como você se expressa, não as coisas que deseja expressar.